7.31.2007

Diseasing the Other

Há uns tempos escrevi aqui uma lista (em construção permanente) acerca das coisas que me irrita ouvir acerca de poliamor, das quais as frases do tipo: "há muito mais polis no meio gay/LGBT" ou "há muito mais polis no meio hetero" ou ainda "há muito mais polis nos meios bi" são do piorío em irritarem-me e encherem-me de toneladas de karma.

Há uma expressão excelente dos meandros sociológicos que é o "diseasing the other". Descreve o processo em que grupos que subalternizados por uma fatia mainstream da sociedade se tornam associados a doenças e à sua disseminação. Na idade média (e também, já agora, infelizmente nos dias de hoje) os ciganos são vistos como sujos e transmissores de doenças. Os judeus eram a causa natural dos terramotos. A sífilis teve tantos nomes como países onde foi diagnosticada, e surpresa! era sempre um país com quem não se tinham relações amigáveis (o mal-espanhol, o mal-francês...). Ainda hoje o homossexuais masculinos são associados a todas as doenças e mais algumas, principalmente A DOENÇA, e o preconceito generalizado é de tal ordem que afecta os meios científicos ao ponto de tomarem decisoes que os impedem de dar sangue, sem qualquer avaliação da história clínica de dadores, hetero ou homossexuais, como casos individuais. O conceito de grupos de risco em vez de comportamentos de risco é uma discussão antiga de quase 30 anos, mas que ilustra bem como o nosso cérebro percepciona grupos (e os cliché a eles associados) antes de ver um indivíduo e a sua própria história clínica e comportamental. Neste momento o "grupo de risco" são mulheres heterossexuais casadas. Mas adiante, chega de fel, estou a dispersar-me.

Geralmente quem diz que "há mais polis no grupo X" são pessoas poli-cépticas, e que associam tudo o que é estranho, aberrante ou pelo menos fora do normal, a grupos dos quais não fazem parte. Concretizando, depende de que lado da barricada se está e quem se prefere demonizar. Heteros bem comportados vão associar poliamor a toda "aquela rebaldaria" que é o mundo gay, e homossexuais poli-cépticos vão achar que poliamor é coisa de heteros swingers aborrecidos, e todos estes juntos vão achar que os bis e o seu pantanal de indecisão podem abraçar sem problemas mais uma coisa "promiscua" como o poliamor. Igualmente, uma pessoa poli-céptica que veja como estranho qualquer outro grupo, vai achar que poliamor é "coisa para eles". Façam o exercício, com os grupos que vos são "estranhos" por qualquer motivo, é super divertido!

Se eu fizer o exercício com grupos que me são "estranhos" dá-me coisas muito giras (claro que para mim poliamor não é estranho, é só pelo exercício):

"há mais poliamorosas entre as tias da Lapa"
"há mais poliamorosos entre os esquimó"
"há mais poliamorosos entre a terceira idade"
"há mais poliamorosos entre os adolescentes"
"há mais poliamorosos entre os car-tuners"
"há mais poliamorosos entre os estudantes de economia da Universidade Católica"
"há mais poliamorosos entre os eclesiásticos"

(ok, preconceitos assumidos, algumas parecem-me quase uma contradição de facto).

Agora perguntem ás pessoas à vossa volta e repitam o exercício. Com a senhora da mercearia, o pai, a tia Licas, o colega do lado, o senhor das portagens na ponte, ao polícia...


Claro que não ajuda que muitos dos sites na net sobre poliamor na net, não sejam sites de informação, mas sítios de contactos. Obviamente então que estarão impregnados da orientação sexual do grupo alvo que se pretende atingir. Mesmo os sites de divulgação, muitos deles sendo amadores e feitos por caturrice voluntária, vão estar marcados pela orientação sexual (politica ou não) de quem escreveu.


Acabando de explicar porque acho que é assim gostava de finalizar declarando que não aceito a propagação deste tipo de preconceitos, e que acho que não o devemos aceitar, quer em relação a poliamorosos ou não, antes devemos combater qualquer afirmação deste tipo.


Participem!


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7.27.2007

your fence is sitting on me


Os ingleses têm uma expressão danada para designar todos os indecisos, incapazes de compromissos ou simplesmente as pessoas que se encontram durante a transição que uma tomada de decisão implica: dizem dessa pessoa que está "sitting on a fence", "sentada sobre uma cerca", entre dois quintais, ganhando, alem do estigma da indecisão, o estigma da transgressão. Claro que tinha que ter que ver com jardinagem, uma vez que não pode ter nada a ver com cavalos, e a transgressor tinha que ter a ver com propriedade.

é uma expressão usada abundantemente em ambientes normativos, por muito queer ou não que sejam, para definir quer as pessoas bissexuais, quer as pessoas poly. Ambas as identidades, se é que lhes podemos chamar assim, são teoricamente incapazes de decidir de modo definitivo o que querem de si, das outras pessoas e da sua vida. Parecem ser incapazes de compromissos e não são nada fiáveis. Fazem equilíbrio em cima duma cerca de jardim que as outras pessoas foram tornando cada vez mais fininha e mais alta, e parecem não ter vontade de sair de posição tão incómoda.

E que tal alguém virar o bico ao prego, virar o ponto de vista e dizer "your fence is sitting on me"? ou seja a tua pressão para me fazer escolher, tomar uma atitude, está sentada na minha cara e é uma coisa desagradável? porque é que fazes escolhas do género preto e branco, hetero ou homo, mono-aquela ou mono-esta é uma coisa boa comparada com deixar os sentimentos fluir e decidir de acordo com isso? Porque não criar, por caturrice e persistência, um conjunto de quintais onde as cercas deixaram de existir ou onde são apenas marcos, referencias para se saber onde se está de modo relativo a um referencial, e não uma divisão?

Eu não fico sentada à espera que esses quintais apareçam. Vou vivendo e acreditando que eles vão inevitavelmente aparecer, que é o melhor activismo que pode haver. "Ama e faz o que quiseres" já dizia o outro.

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7.25.2007

Workshop: Uma, Nenhuma. Várias, na Ladyfest, Viena, 2007


Prometi há tempos um resumo mais detalhado da workshop sobre poliamor que demos em Viena na Ladyfest, em Maio.

O tema escolhido foi "Uma, Nenhuma, Muitas". Como dito num post anterior, foi recomendado, de acordo com a filosofia da Ladyfest, que a linguagem utilisada fosse o mais possível gender-neutral.

Tinhamos duas horas á nossa disposicao, e optámos por ter um rascunho de estrutura, com espaco para muita improvisacao e flexibilidade, estimando deixar a última hora ou hora e meia para discussoes acerca de temas que a própria audiência propusesse. Afinal, nao sabiamos o tipo de público que iamos ter, mas tinhamos já a conviccao, de outras workshops a que assistimos durante a ladyfest, que já teriam todos pelo menos ouvir falar de poliamor, que conhecessem os termos e os temas pertinentes e eventualmente já tivessem alguma experiência que se pudesse dizer poliamorosa.

(Na verdade a "propaganda de corredor" já tinha sido tal que no dia anterior tinha havido uma workshop sobre "pornografia feministicamente correcta", com gente a sair pelas costuras onde toda a gente já falava da workshop sobre poliamor. Idem para a queereruption (sex party) em que já se tinha tornado tema recorrente no meio das bujecas.)

Optámos por usar a apresentacao como um icebreaker e um brainstorm em si para temas de discussao. Nós (moderadoras) apresentámo-nos, falámos um pouco das nossas experiencias activistas (quem nao souber e quiser saber pergunte-me), descrevemos como a nível pessoal aterrámos em situacoes poliamorosas, e complementarmente como aterrámos a fazer workshops e poliactivismo. Seguidamente acertámos a lingua em que a workshop deveria ser conduzida (se em inglês ou em alemao) e escolheram-se voluntários para fazer traducao simultanea para inglês caso alguém aparecesse mais tarde que nao soubesse alemao. Por fim, convidámos a audiência a apresentar-se, caso o quisesse, eventualmente seguindo o modelo sugerido por nós.

Como estavam mais de 22 pessoas na sala (e um cao), a apresentacao em si demorou quase uma hora. Igualmente devido ao numero (elevado) de pessoas, nao foi possivel discutir qualquer assunto de modo muito profundo. Todas as pessoas na audiencia tinham realmente já mais que ouvido falar de poliamor, mas todas tinham níveis de experiência e aceitacao em relacao ao conceito bastante diferentes. Em termos socioculturais pode se dizer que a maior parte da audiencia provinha duma esquerda menos burguesa e mais radical, com expriencias de viver em comunas ou prédios abandonados etc, entre os 18 e os 35 anos. Nao se sobrepondo a estes, mas tambem muito maioritaria, toda a fatia queer, GLBT e todos os gender queer. Faz me bem de vez em quando estar em ambientes onde eu de repente me torno mainstream e nao tenho de explicar a minoria que sou. ficámos com a ideia que podiam ter vindo muito mais pessoas, mas havia ao mesmo tempo uma workshop que obrigou as pessoas a escolher.

Como explicado no parágrafo anterior, o grupo era muito grande e o facto de pessoas estarem continuamente a chegar ou a sair (grrr) tornou impossivel a divisao em dois ou mais grupos. Na última hora tivemos também de providenciar traducao simultanea para inglês, o que tornou a discussao mais demorada. Sendo assim, foram muitos os temas tocados, mas pouca a profundidade. Fica para mim propria a nota que tenho de ser mais agressiva a moderar "o gajo que tem sempre que botar faladura" e que nao deixa mais ninguém falar, porque acaba por tornar a discussao centrada nele e nao no que o grupo propôs, raios o partam, que tem de haver sempre um cromo destes! Os temas tocados variaram entre:

- O que é uma relacao? sabemos que no mundo nao-poly ha as caixinhas amizade, amor, sexo that is it. E para nós? onde comeca, se é que se pode dizer que comeca, uma relacao?

- A diferenca entre o ser e o fazer: sou monogâmica por ter uma namorada? As pessoas que me vêem vao achar que sim, mas eu sei que nao... por outras palavras a minha percepcao e a dos outros.

- Poliamor: que nome de MERDA, quem o inventou devia estar bêbada ! Desinforma e traz os clichées todos atrás. poliamor nao é "muitas e boas". poliamor é aguentar e até gostar quando os "nossos" outros estao como outros.

- A pressao social existente nos nossos dias para se TER (já nem digo ESTAR) uma relacao.

- Ciume (inevitável), desconstruir o ciúme para o controlar (o ciume nao desaparece das relacoes poliamorosas por milagre, teem é outros mecanismos que facilitam o seu controle e neutralisacao)

- Sentimento de posse, influência do capitalismo e "starvation economy" nas relacoes monogâmicas.

- Tempo de qualidade vs tempo automaticamente passado com outra pessoa, por hábito.

- Responsabilidade.

- Fronteiras: gestao de tempo e de espacos

Discutimos para além do tempo e até a organisacao precisar do espaco (e se acabar o café) durante quase mais uma hora. Fechámos agradecendo tudo o que aprendemos com a contribuicao generosa daquela audiência e pedindo que comentassem a workshop (para aprendermos para as próximas). Desconfio que foi mais fixe e mais rico para mim do que para eles.

Lembrete para mesas futuras: divisao em grupos, moderacao forte e um tema fixo. É preferível discutir menos temas e com mais profundidade, e que todas as pessoas possam falar e fazer perguntas.

As próximas workshops serao aqui anunciadas.

7.23.2007

poly encontro em lisboa

Foi terca feira, dia 3 de Julho.

Foi a segunda vez que a comunidade electrónica portuguesa de poliamor organisou um encontro (antes disso houve mesas regulares de discussao e autosuporte no Porto organisadas por "yours trully", ver http://laundrylst.blogspot.com/search/label/mesas%20poly e http://laundrylst.blogspot.com/2006/09/mesa-de-discussao-poli-no-porto.html#links) em Lisboa. Em 2006 já houve um jantar, e está correntemente outro em preparacao.

Comecamos no miradouro na Graca, sete pessoas de todas as origens, orientacoes sexuais e feitios. Os que nao se conheciam apresentaram-se. Contámos (ou recapitulámos) como aterrámos nos nossos modos de vida poliamorosos e como aterráramos na mailing list. Com o vento e a ameaca de chuva mudámo-nos em marcha forcada para a piscina (almofadada) do Chapitô.

Nao foi possivel aprofundar muito as conversas (dinâmica de grupo, limitacao de tempo, etc), mas partilharam-se opinioes e experiências, e até mandámos uns bitaites acerca de situacoes complicadas que alguns de nós estavam a atravessar. Foi muito boa onda, muito descontraido, duma maneira que diria muito lisboeta (desculpem o bairrismo, sim?)

Com encontros destes, os que participaram ficaram sem dúvida com vontade de continuar, e os que nao foram vao perder o medo ou a preguica de irem.

O meu desejo é que se tornem regulares.


obrigada por lerem.



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7.21.2007

Uma casa com muitos quartos

Navego muito no blog "Sexualidade(s) Femninina(s)" que só posso recomendar.
Roubei de lá, se é que se pode dizer que é roubo:

"o coração tem mais quartos que uma casa de putas"
(extraido de Garcia Marques, in Amor nos Tempos da Cólera)

Os coracoes de muitos albergam muita gente, histórias passadas, palpitacoes presentes, anelos futuros. Albergam tantos quartos vazios á espera do seu tempo e da sua oportunidade.

Para os presentes optimistas, e talvez poliamorosos, digo que, para a analogia ficar completa e se explicar, falta acrescentar que, se se criarem corredores largos e arejados e as devidas portas de servico, para que nao haja acotovelamentos, muita gente pode viver simultaneamente e feliz em tantos outros quartos...


que lindas casas essas!


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7.18.2007

Poliamor na rádio: Prova Oral, hoje, Antena 3

Hoje, Antena 3, 19 horas.
Prova Oral, com Fernando Alvim e Marisa Jamaica, sobre Poliamor.

http://provaoral.blogspot.com/2007/07/poliamo-te.html

Enquanto oico, comento na página do programa.

A Marisa Jamaica modera muuuuuito bem e faz comentários pertinentes, e incentiva a conversa a continuar fluentemente, com vários pontos de interesse, inteligentes. Pena que o Ricardo insista no tom da brincadeira e que permita interrupcoes, pois perde se muito que seria interessante ouvir, para ouvintes poli ou nao :-)))

Gostava de MUITO falar com os ouvintes que se declararam poly em conversa telefónica :-))) , que entrassem em contacto connosco (connosoco: comunidade poliamor portuguesa).a Lara, o Alex e o Jorge estiveram muito bem (nao seria de esperar outra coisa). O registo do programa foi superficial, mas houve frases bem ditas, oportunidades bem aproveitadas para sair do registo "brincadeira" do programa e acrecsentar alguma informacao com conteúdo.

Faltou sair um pouco do registo obcecado com o homem/mulher como o unico tipo possível (perguntas como "como é que os homens lidam com os ciumes quando as mulheres blá"), esquecendo se que há malta queer ao cimo da terra e que nao somos assim tao poucos. Faltou ir "para além do sexo" como motor de relacoes e como ponto que define onde comeca uma relacao. Uma superficialidade aflitiva. No geral as intervencoes da Marisa e dos "três fantásticos" salvaram algo que podia ter descambado para uma coisa muito pior.

A minha pergunta é o "porquê" daquele registo de brincadeira. Nao é possivel cativar atencoes e audiencias de outra maneira? Há que manter o registo porpositadamente superficial para evitar mind overflows a ouvintes com capacidades limitadas de concentracao? Enfim, talvez nao tenha a informacao toda e seja injusta a fazer estas perguntas.

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os comentarios no blog do programa valem bem uma leitura....


no geral foi bom. achei pena nao se poder retirar um pouco do estigma de casal que era a obcessao do Alvim, e da polaridade homens/mulheres como se isso fosse uma condicao influente em poliamor. No geral gostei, e acho que o"trio fantástico" conseguiu manter a cabeca fria, responder de modo completo e ainda acrescentar mais alguma coisa nao contida nas perguntas.

Espero que algumas das pessoas poli que por ai andam e que até telefonaram para o programa se juntem a nós (comunidade poliamorosa portuguesa). Gostava que fosse possivel haver mais discussoes e mais troca de ideias de problemas específicos ao poliamor e suas multiplas "encarnacoes" ...

Acho que vai aparecer muita gente na comunidade. Os trolls habituais que se juntam por curiosidade mas que estao enganados, e gente genuinamente interessada. Espero é que isto nao desencadeie uma onda de tentativas "polis" por pessoas com menos "traquejo" emocional (que é preciso ter, nao basta deixares os preconceitos á porta), e que depois lhes corra mal a vida e digam que a culpa é toda do poliamor (claro! se alguém morrer electrocutado a ligar um computador, a culpa é dainternet e nao do seu cerebro descuidado).

vamos ver, amanha vai ser giro... amanha Portugal vai acordar um pouco melhor.

7.17.2007

poly-portugal na marcha do Orgulho LGBT Porto

Na marcha LGBT no Porto (sábado, 7 de Julho de 2007) o colectivo Poli-Portugal tomou parte oficialmente como grupo participante na marcha, tomando posicao entre a faixa do Bloco de Esquerda e o BiPortugal.

Obrigada ao(s) membro(s) da organisacao da Marcha deste ano por terem tido esta lembranca e iniciativa. Nao só isso trouxe visibilidade ao nível das outras pessoas e organisacoes presentes na organisacao como para o público em geral. Infelizmente nao houve tempo para preparar uma faixa, mas levei a minha t-shirt "poliamid" e gritei muito alto:

http://laundrylst.blogspot.com/2006/05/polylogo.html#links




--->fotos em breve!!!

7.14.2007

Resumo Geral do LFT (encontro lésbico de primavera)


Publicado na Zona Livre numero 58.
A Zona Livre é o orgao de comunicacao do Clube Safo, grupo de defesa dos direitos das lésbicas.

Tenciono em breve escrever um artigo mais aprofundado sobre a workshop sobre ciumes e compersion (" a minha namorada beija outra e eu fico contente com isso") que é mais em in-tópico em relacao a este blog. O que está abaixo é apenas um resumo geral, de interesse para acomunidade GLBT, activista ou nao.

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O LFT (Lesben FruhlingTreffen, ou Encontro Lésbico de Primavera) teve lugar a 26-28 Maio de 2007 em Marburg, Alemanha.

Achei que poderia ser de interesse para a nossa comunidade escrever um pequeno resumo e partilhar convosco o que vi num encontro que reuniu algumas centenas se nao mais de um milhar de lésbicas. Este encontro é destinado á comunidade lésbica de língua alemã, embora nao seja fechado á participação de lésbicas de outras línguas. Nesse caso, tradução simultânea é proporcionada. Mulheres bisexuais e lésbicas transgénero sao explicitamente benvindas a participar neste encontro.

O LFT tem como conceito base ser um ponto de encontro e partilha entre lésbicas. É uma plataforma para mostrar, comunicar, perguntar, responder, contar, ver, ouvir, sentir, trocar experiências. Sendo assim, é um encontro tanto mais rico quanto a diversidade de quem o visita. Por isso é um evento carregado de consciência e solidariedade sociais: não faz sentido que alguém deixe de vir devido a limitações físicas, cognitivas (por ex. lésbicas portadoras de deficiência) ou financeiras.

A organisação prestou especial atençao para que nao só o campus do evento mas também todos os hoteis, acessos e transportes etc. nao oferecessem dificuldades a lésbicas com mobilidade reduzida. Especialmente as utilisadoras de cadeiras de rodas puderam contar com a ajuda de assistentes (voluntárias). Tradutoras em língua gestual alema para surdas (DGS) estiveram presentes em todas apresentações e workshops. Os programas foram imprimidos em paralelo em versões em Braille e em letras grandes.

Igualmente de acordo com a filosofia de facilitar o acesso a todas, o preco de entrada a pagar por cada lésbica foi calculado (voluntariamente, pela própria, contando com uma eventual honestidade natural de todas as lésbicas) em função do seu ordenado líquido, variando entre 10 e 130Eu. Independentemente do escalão pago, toda a lésbica visitante do LFT teve de fazer duas horas de trabalho comunitário, a escolher e a discutir com a organisação.

A organisação teve a atenção especial de organisar varios tipos de possibilidades de dormida, entre as quais um leque de pensões e hoteis, e também a possibilidade de pernoitar num ginásio ou em quartos privados oferecidos gentilmente por privadas ("bolsa de camas"). Muitas acabaram por escolher o ginásio por não quererem dispensar a experiência de grupo, com todo o empowerment que vem associado. Toda a comida vendida no recinto era de origem "comércio justo", e haviam sempre alternativas vegetarianas ou vegan.

Um encontro destes geralmente nao deixa passar a oportunidade fantastica, proporcionada pela presenca de tantas lésbicas politicamente interessadas, de organisar uma manifestacao. A manifestacao decorreu sob o tema „uma sociedade mais justa“ incluindo pessoas com deficiencia em todos os sectores desde o primeiro minuto e nao só quando ha tempo sobejante ou dinheiro, e por uma vivencia mais socialmente responsavel, quer em geral quer para as mulheres e lesbicas em particiular. Tendo em conta que Marburg tem 70.000 habitantes, e que a manifestaco cerca de 1000 pessoas, imaginem o impacto e a confrontacao.

Entre os varios pontos do programa, lembro por ordem arbirtrária a feira da ladra, a exposicao de arte lésbica, as muitas workshops, as noites de discoteca, e os concertos.
Todas as noites houve vários tipos de programa, desde noites de discoteca até tertúlias em cafés ou concertos por artistas lésbicos. Houve inclusivamente uma noite Open Mic para novos talentos com desejo e coragem de mostrar o seu trabalho. Algo que achei importante foi a visibilidade dada a artesãs ou lojas lésbicas (ex. a Tikala, loja de música online). Gostava também de realcar as workshops pois na minha opinião acabam por ser o prato forte de tal encontro, em que se pode aprender e discutir muito acerca de um tema, geralmente apresentado e moderado por uma especialista.

Algums temas das workshops, selecionados ao acaso (eram muitos!) incluiram: "Tu ressonas!", "Chi-Gong", "Berimbau, modo de emprego", " A farmácia caseira", "Massagem de costas e pescoço", "Anarcofeminismo", "Crítica á situação social de migrantes em Espanha", "Jovens lésbicas", "Partilha entre gerações", "Mulheres e Lésbicas na India", "Controlar o caos interno", " Bolsa de contactos", "Como preparar uma manifestação","Projecto lésbica e terceira idade: uma alternativa aos lares (SAFIA)", " Como alimentar se de ervas daninhas (survival)", "Artes circences", " Didgeridoo", "Divindades femininas", " Teatro de improvisacao, como começar", "Tango", "Parceiras de lésbicas com deficiência", "Que fazer com o poder", "Lésbicas e budismo", "A bíblia traduzida em linguagem feminista"

Acabei por fazer, por nenhuma razão especial: "Círculo de tambores", "Comunicação sem violência" e "Apresentação de brinquedos sexuais". Fiz por razões muito especiais a workshop "A minha amada beija outra mulher e eu fico contente com isso" uma vez que ajudei a preparar a workshop e por o tema me dizer imenso respeito e "Como escrever uma procuracao para TODAS as eventualidades" pelas possibildades que oferece. Pela sua pertinência, gostaria de escrever, noutra oportunidade, um resumo desta ultima, pois é um tema cujo conhecimento permite, além de compensar a actual ausência da extensão da lei do casamento ás pessoas do mesmo sexo, ir mais além e prever mais possibilidades. Para isso gostava que, se alguém se debruçou sobre este tema no contexto da lei portuguesa, que entrasse em contacto comigo.

O encontro acabou com um plenário que contou com a crítica (feita ao vivo e sem censura) da organisação, mas que se saldou positivamente (sem surpresas) e se transformou em louvor quase unânime da organisação. No fim passou-se o testemunho á próxima organisação (Dresden 2008).

Voltei para casa cansadíssima (dormi no tal ginásio, com as mencionadas lésbicas que ressonam abundantemente incluidas no programa), mas com a sensação não só de ter aprendido muita coisa acerca de alguns temas, mas também confortada por ter visto e convivido com tantas mulheres com experiências semelhantes á minha, mas no entanto tão diversas. Este último efeito talvez acabe por ser o mais importante. Encerro este texto fazendo votos para que mais mulheres queer portuguesas um dia tambem queiram e possam se organisar assim, e que queiram partilhar activamente.


mais info (infelizmente em alemao):
http://www.lesbenfruehling.de/marburg2007/html/faq.html

7.13.2007

Nao só poly, mas bom senso: a importancia de dormir 14 horas


Dormi 14 horas, de uma penada, com sonhos malucos que nao me lembro ao acordar.

Os meus problemas relacionais continuam lá, continuam agudos, mas sinto uma lucidez e uma calma que nao sentia há várias semanas.

Queremos ser alma, ter comportamentos ideias, queremos ser vontade e lucidez, mas tambem somos corpo e este condiciona-nos. Coisas tao básicas como dormir e comer bem sao determinantes para os nossos estados de alma. A alma está tao agarrada ao corpo que nem faz sentido falar dela como uma entidade separada. digo eu, empiricamente.

As relacoes sao condicionadas por isto e aquilo, tal como o nosso amor heroico, a nossa vontade, a nossa tusa, o nosso idealismo. mas tambem coisas tao comesinhas como as tais 14 horas de sono ou nao ter bebido mais aquela cerveja que fez as coisas descambar..


Mais irritante que isso é só mesmo a dependencia da sorte.

Há quem diga que a sorte faz um campeao (ver portugal inglaterra em 2004).

e é mesmo. ha acontecimentos que precisam que saiamos dos nossos habitos normais, desencontros ou encontros, a palavra que foi usada em vez da outra e que na nossa cabeca tem o mesmo significado mas que para quem nos ouve muda completamente a disposicao de nos ouvir e de nos quererem, o hoje estar a chover ou nao que provocou uma data de decisoes indirectas.

É tudo parte desta aventura, mas ás vezes dispensava estar tao dependente de incndicionantes. Estou cansada e queria que as coisas voltassem a correr bem, como dantes. Era tudo tao facil.

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7.04.2007

Antidote: Perfil poli-activista completo

(embora diga "completo" no título, este post está permanentemente em construção!)

Antidote,
não é apenas o pseudónimo usado para escrever neste blog. As actividades poliactivistas, (Actividades de informação e divulgação do poliamor como modo de vida válido e merecedor de respeito), com ou sem o poly_portugal, têem sido levadas a cabo com o mesmo pseudónimo. O pseudónimo não é usado para encobrir alguém que escreve ou faz o que lhe apetece sem querer assumir responsabilidades mas sim proteger uma vida profissional. A maior parte das pessoas que se movem no activismo/jornalismo/etc conhecem Antidote pelo seu nome e sabem que a podem chamar à pedra se necessário.


(
em inglês e exaustivo: http://www.diepolytanten.de.tc/impressum/profiles.htm)



Por áreas de actividade:


* Internet:
-
Publicação regular deste blog, o Our Laundry List (informativo, divulgação e contra-corrente)

- Criação e manutenção da página "Die Schlampige PolyTanten" a primeira página em língua alemã dedicada ao poliamor para "damas de todos os géneros" (mulheres e pessoas de identidade transgénero).
- Modera
ção da mailing-list com o mesmo nome e mesmo público alvo.
- Moderação da lista poly_portugal (grupo electrónico de discussão, auto-suporte e intervenção sobre poliamor).
- Participa no blog polyportugal.



* Workshops, apresentações:
- Apresentação, com outras (J. e I.) do workshop "Uma, Muitas, Nenhuma" na Ladyfest, Viena 2007 (resumo, programa).
- Apresentação e discussão sobre poliamor ("O que é poliamor e como o vivemos") a um grupo organizado de jovens lésbicas, "Ragazza" (também com J. e I.).
- Workshop "Poly, why and how to network", com Steffi, na Conferência Schmacht de Páscoa, em Hamburgo, 2008.
- "
Conversas sobre Poliamor", 5 de Junho de 2008, co-organização poly_portugal e Panteras Rosa, com Sérgio (resumo).
- "Poly, Poly support-groups and poly-activism" apresentada conjuntamente com R. ("nuvens no céu azul", deste blog), no "1st Munich's "Poly Begegnungtag", 8 de Fevereiro de 2009 (resumo em breve).



* Marchas LGBT
- Participação, individual, e como poly_portugal, na organização e fundação da 1a Marcha do Orgulho LGBT Porto 2006.
- Participação do poly_portugal na marcha Orgulho LGBT 2007 como associação (ver "colectivos" em http://marcha.orgulhoporto.org/).


* Panfletos
- Elaboração, com Lara, do panfleto "Poliamor no Dia da Mulher"


* Artigos publicados:
- Vários artigos sobre poliamor na Zona Livre, publicação mensal do Clube Safo. (alguns).
- Vários artigos publicados na Krake, "revista de apoio à mulher poliamorosa" (Alguns).
- Bichana, zine das Panteras Rosa (Alguns).



* Mesas/encontros de discussão/informação poliamor:
- Comecei as mesas mensais de discussão e auto suporte sobre poliamor no Porto em 2006 (paradas entretanto)
- Comecei alguns encontros em Lisboa não regulares (exemplo)

(os encontros regulares são felizmente entretanto continuados e organizados exemplarmente por outra pessoa, ver http://www.poliamor.pt.to para mais informação)
- Banca de informação, perguntas e respostas sobre poliamor na festa Porto Pride em 2006 e 2007.
- Moderadora e organizadora do encontro mensal ("stammtisch") QueerPolyMuc, mesa regular sobre poliamor para mulheres e transgénero.



* Campo de Verão
Co-organisou em 2008, co-organisa correntemente em 2009, as Férias em Vale Galdérias ("Ferien in Schlampenau"). Workshops, convívio, networking, utopias. Mais informa
çoes, ver die PolyTanten em "events".



* Contactos com a Imprensa:
Entrevistas á imprensa (Sol, Grazia, Máxima e Jornal de Notícias), sob pseudónimo: http://poliamorpt.com.sapo.pt/press.html


* Divulgação da lista poly_portugal:
- flyer antigo
- flyer novo


Escrevam: antidote [arroba] imensis [ponto] net

(under construction)

7.03.2007

banca de informacao poliamor @ Pride Porto

Ainda nao tive tempo de escrever alguma coisa de jeito, mas fica aqui a informacao mais importante.

Á semelhanca do ano passado, vou ter uma banquinha de informacao sobre poliamor e nao monogamia responsável (com possibilidade de "degenerar" em workshop caso haja massa critica) na festa porto pride, no sábado 7 de Julho, no teatro Sá da Bandeira, pela noite dentro (escrevam me um mail privado se houver interesse numa workshop ou sobre temas especificos para eu poder preparar atempadamente)

Passem a informacao a quem se interessar, e já agora gostava de saber alguem realmente interssado no tema vai estar por lá?

Obrigada por divulgarem!