Há uma expressão excelente dos meandros sociológicos que é o "diseasing the other". Descreve o processo em que grupos que subalternizados por uma fatia mainstream da sociedade se tornam associados a doenças e à sua disseminação. Na idade média (e também, já agora, infelizmente nos dias de hoje) os ciganos são vistos como sujos e transmissores de doenças. Os judeus eram a causa natural dos terramotos. A sífilis teve tantos nomes como países onde foi diagnosticada, e surpresa! era sempre um país com quem não se tinham relações amigáveis (o mal-espanhol, o mal-francês...). Ainda hoje o homossexuais masculinos são associados a todas as doenças e mais algumas, principalmente A DOENÇA, e o preconceito generalizado é de tal ordem que afecta os meios científicos ao ponto de tomarem decisoes que os impedem de dar sangue, sem qualquer avaliação da história clínica de dadores, hetero ou homossexuais, como casos individuais. O conceito de grupos de risco em vez de comportamentos de risco é uma discussão antiga de quase 30 anos, mas que ilustra bem como o nosso cérebro percepciona grupos (e os cliché a eles associados) antes de ver um indivíduo e a sua própria história clínica e comportamental. Neste momento o "grupo de risco" são mulheres heterossexuais casadas. Mas adiante, chega de fel, estou a dispersar-me.
Geralmente quem diz que "há mais polis no grupo X" são pessoas poli-cépticas, e que associam tudo o que é estranho, aberrante ou pelo menos fora do normal, a grupos dos quais não fazem parte. Concretizando, depende de que lado da barricada se está e quem se prefere demonizar. Heteros bem comportados vão associar poliamor a toda "aquela rebaldaria" que é o mundo gay, e homossexuais poli-cépticos vão achar que poliamor é coisa de heteros swingers aborrecidos, e todos estes juntos vão achar que os bis e o seu pantanal de indecisão podem abraçar sem problemas mais uma coisa "promiscua" como o poliamor. Igualmente, uma pessoa poli-céptica que veja como estranho qualquer outro grupo, vai achar que poliamor é "coisa para eles". Façam o exercício, com os grupos que vos são "estranhos" por qualquer motivo, é super divertido!
Se eu fizer o exercício com grupos que me são "estranhos" dá-me coisas muito giras (claro que para mim poliamor não é estranho, é só pelo exercício):
"há mais poliamorosas entre as tias da Lapa"
"há mais poliamorosos entre os esquimó"
"há mais poliamorosos entre a terceira idade"
"há mais poliamorosos entre os adolescentes"
"há mais poliamorosos entre os car-tuners"
"há mais poliamorosos entre os estudantes de economia da Universidade Católica"
"há mais poliamorosos entre os eclesiásticos"
(ok, preconceitos assumidos, algumas parecem-me quase uma contradição de facto).
Agora perguntem ás pessoas à vossa volta e repitam o exercício. Com a senhora da mercearia, o pai, a tia Licas, o colega do lado, o senhor das portagens na ponte, ao polícia...
Claro que não ajuda que muitos dos sites na net sobre poliamor na net, não sejam sites de informação, mas sítios de contactos. Obviamente então que estarão impregnados da orientação sexual do grupo alvo que se pretende atingir. Mesmo os sites de divulgação, muitos deles sendo amadores e feitos por caturrice voluntária, vão estar marcados pela orientação sexual (politica ou não) de quem escreveu.
Acabando de explicar porque acho que é assim gostava de finalizar declarando que não aceito a propagação deste tipo de preconceitos, e que acho que não o devemos aceitar, quer em relação a poliamorosos ou não, antes devemos combater qualquer afirmação deste tipo.
Participem!
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