6.30.2009

Threesome

'Threesome,' 1994, com Josh Charles, Stephen Baldwin e Lara Flynn Boyle, de A. Fleming.

Infelizmente o filme cai nas soluções fáceis e chuta para canto, evitando problemas deitando fora a criança com a água do banho (ahhh.. vamos todos salvar a nossa maravilhosa amizade) em vez de pegar no boi pelos cornos e resolver o que tinham entre mãos, com dificuldades e belezas possíveis inerentes.

Mas nao deixa de valer a pena ser visto. Em família. Chamam a família o que quiserem.



http://en.wikipedia.org/wiki/Threesome_(film)
http://uk.rottentomatoes.com/m/threesome/

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6.28.2009

Do "Público": Eles saem à rua pelo casamento. Mas alguns ainda se escondem

Infelizmente este artigo mete o dedo (e a mão, o pulso, a bota, a metralhadora, o acido sulfúrico...) na ferida de um modo que até nem a maior parte dos activistas LGBT vê...

Começa por escrever acerca da reivindicação do casamento, aliás, toda a a introdução do artigo é casamento até mais não. Mas as pessoas que não querem ser entrevistadas (sem dúvida malvados sem coração nem boas maneiras que se recusam a ser fotografados) que outra razão podem ter que não o medo da discriminação? E mesmo as pessoas que entrevistam, bem, elas próprias falam de discriminação.

Amigos, vamos assistir talvez à conquista do casamento, em poucas semanas (sem adopção, ou enquadramento decente da fertilidade, não é?). Lá estarei, de champanhe na mão, e contente por ter sido das primeiras pessoas a ter honra de ter assinado com o MPI (Movimento pela Igualdade). Mas vamos também que nos preparar para artigos da imprensa a dizerem cosias do género "meses depois do alargamento do casamento LGBT poucos são os que casam - para que então tanto barulho, etc?". Porque muitos vão chegar à conclusão que se lutou por uma coisa, mas que faltam ainda as condições, de segurança física e emocional, para que aqueles que o queiram possam realmente casar (protecção em caso de discriminação). E que os que não querem casar por acaso também precisam.

Espero que a grande luta do próximo ano seja por um enquadramento especifico das discriminações, que legislativa, quer penal. E por acções preventivas específicas, nas escolas, nos tribunais, nas prisões, nas forças da ordem, e na sociedade em geral. Espero também que os que decidam não casar, poly ou não, LGBT ou não, que lutem pelo direito de gerir pessoalmente quem os pode visitar em caso de acidente num hospital, numa prisão, quem pode decidir "desligar a máquina", quem pode herdar os seus bens. Porque no fundo o casamento é um contracto que define essas coisas em lugar do Estado.

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Eles saem à rua pelo casamento. Mas alguns ainda se escondem
27.06.2009, Andreia Sanches (texto) e Nuno Ferreira Santos (fotos)

A luta pelo acesso ao casamento gay ganhou visibilidade. Mas há outros
temas no centro das reivindicações de quem festeja o "Orgulho LGBT"

A celebração do chamado "Orgulho LGBT" (sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero) tem dois pontos altos: a marcha, em Lisboa, e o arraial ao ar livre, também na capital. A marcha aconteceu no sábado - terá sido a maior de sempre, segundo a organização, e nela gritou-se pelo acesso ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. O Arraial Pride é
hoje, uma semana depois, em Belém, e tem como tema "as famílias que somos". São dois momentos de exposição pública das pessoas LGBT, mas também de reivindicação de direitos. O que significa que, aqui, não há quem se esconda. Ou quem recuse dar entrevistas. Certo? Errado.

Ao PÚBLICO, na última marcha, interessava encontrar exclusivamente casais gay. Casais anónimos. O desafio era simples: "Deixe-se fotografar para o jornal" e "diga-nos o que o faz sair à rua". Parecia simples: era uma marcha nas ruas de Lisboa, com música, animação, casais abraçados, alguns beijos (não muitos), pessoas com filhos (muitas)... mas ao longo da tarde os "nãos" sucederam-se. Onde estava o orgulho LGBT? Não houve ninguém a dizer: "Não dou entrevistas porque não me apetece aparecer a falar consigo". Houve outros argumentos: havia filhos que era preciso "proteger"; postos de trabalho a preservar - "Sou militar, não vão gostar se aparecer, desculpe"; familiares que se vissem a fotografia no jornal, assim, isolada, podiam ficar incomodados. "Desculpe, mas não." Afinal, por que é que eles saem à rua? "Orgulho LGBT"? Respostas de casais que aceitaram falar ao PÚBLICO.


Mafalda e Ana
Para que Portugal seja mais parecido com Espanha

Fazem parte da pequena multidão de jovens muito jovens que este ano participaram na marcha LGBT. Mafalda Sampaio e Ana Gavilan têm 20 anos e são estudantes do ensino superior (Mafalda escolheu Psicologia, Ana frequenta Design de Moda). "Sempre soube que era bissexual", diz a estudante de Psicologia que também trabalha num café na Baixa lisboeta. Ou seja, desde que se lembra de gostar, tanto gostava de rapazes como de raparigas. Com Ana aconteceu de maneira diferente. Descobriu pouco antes dos 18 anos que era homossexual e há quem na família ainda esteja a digerir essa descoberta. Há um ano e pouco começaram a viver juntas. E agora já fazem planos: gostavam de casar-se, sonham ter filhos.

A lei portuguesa não permite casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Nem a adopção de crianças por casais de pessoas do mesmo sexo. Nem tão-pouco o recurso a técnicas de reprodução medicamente assistida por parte de mulheres lésbicas. Mafalda sabe de tudo isto e, nesta tarde tórrida, em plena marcha do "Orgulho", trava o passo para dizer sem esconder a irritação: "Gostava de ter mais direitos". Depois continua: "Acho que para lutar por eles é preciso dar a cara, acho que os eventos em público são essenciais. Acho que há mais gente a participar nestes eventos públicos e, provavelmente, isso tem a ver com o facto de o casamento gay estar mais em cima da mesa. E de haver figuras públicas a defendê-lo. Mas, francamente, acho que, na verdade, esta questão já devia ser uma coisa do passado, já não devíamos estar a discutir isto, acho que toda a gente deveria ter direito a casar-se e pronto".

A revolta vai transparecendo mais nas palavras, à medida que prossegue: "Os políticos são homofóbicos, muitos são gay e não se assumem e não respeitam quem se assume. Se a lei não mudar em Portugal, posso pedir a nacionalidade espanhola, tenho condições para fazê-lo, e ir a Espanha para recorrer a um centro especializado e fazer uma inseminação artificial. E casar-me. Não sei por que é que um país que está aqui tão perto é tão diferente de Portugal. Mas é exactamente por isso que participo neste tipo de eventos públicos, para tentar diminuir a distância".

Em Espanha, os casamentos entre pessoas do mesmo sexo e a adopção por casais homossexuais foram regulamentados em 2005. E as lésbicas podem aceder a centros especializados em reprodução medicamente assistida.


David e Pedro
Para que um beijo deixe de ser notado

David Campelo, de 20 anos, músico, beija Pedro Jerónimo, de 30, administrativo num banco. Está um fim de tarde lindo, a marcha do "Orgulho LGBT" chega ao fim, no Rossio. Quem participou começa a desmobilizar- se. David não. Fica mais um bocado na conversa com amigos. Transborda de energia. Dá um beijo entusiasmado, sôfrego, a Pedro. Na boca, para a fotografia. "O movimento activista está a crescer", diz David no intervalo da mini-sessão fotográfica. "Está mais unido e está a rejuvenescer. Temos muitos activistas da minha idade e até mais novos; temos jovens menores de idade que estão já activamente empenhados nas associações. Vem aí uma nova geração de activistas."

Há um ano que Pedro e David são um "casal estabelecido" - palavras de David que fazem Pedro rir-se. Não querem casar-se - já falaram do assunto e estão, pelo menos aparentemente, de acordo. Casamento, não. Para eles, não. Mas fazem questão de reivindicá-lo. Querem que a lei
mude, como, de resto, é pedido numa petição lançada há cerca de um mês que conta já com mais de seis mil assinaturas - entre as quais as de muitas figuras públicas.

"O casamento não passa de um papel assinado, mas, na cabeça de muitos casais, faz toda a diferença. É o oficializar uma relação, é ser-se reconhecido", defende David. Nem Pedro nem David precisam, contudo, desse reconhecimento. De que precisam, então? Pedro conta: diz que é bissexual. Que já beijou na boca raparigas na rua, em público, e que não é nada o mesmo do que beijar um rapaz. O beijo à rapariga não é notado; o beijo ao rapaz causa escândalo. "Tento que isso não me iniba. Tento não deixar de dar beijos na rua [a David], mas depende um bocado dos sítios, do ambiente à volta. Penso sempre nisso. Porque as pessoas olham, comentam, atacam..."

David enfurece-se. "Há muito casal que, com medo de ser atacado, nem a mãozinha dá, quanto mais um beijo." E, sim, a sua luta é contra essa sensação de que é preciso esconder alguma coisa: "A minha luta, o que eu quero, é que um dia qualquer um de nós vá na rua e, seja 'homo', 'bi', 'hetero' ou 'trans', isso seja indiferente. Muito tem que mudar na cabeça das pessoas e no discurso das pessoas. Começa logo por não partirmos sempre do princípio que uma menina tem, 'de certeza absoluta, um namorado'. Pode não ter. Pode ter uma namorada. É normal". Se calhar, só vai acontecer quando chegar "à terceira idade", brinca. Mas um dia, acredita, ninguém vai ser atacado por dar um beijo na boca de outra pessoa.


Margarida e Patrícia
Para poder casar-me outra vez

*São ambas bancárias. Estão ambas à sombra, no jardim do Príncipe Real, à espera que a marcha comece, quando falam com o PÚBLICO. Margarida Bom, de 52 anos, tem experiência destas coisas. Há anos que participa empenhadamente nas marchas LGBT. E sabe, por exemplo, que estes acontecimentos têm sempre inúmeros "fotógrafos profissionais" um pouco à
margem que, na verdade, não são nada "fotógrafos profissionais". São homossexuais que com o escudo da máquina fotográfica vêm ver como é. "Ainda não saíram do armário."

Já para Patrícia Antunes, de 36 anos, tudo é novo. Esta é a sua primeira marcha do "Orgulho". E está orgulhosa. "Estamos juntas há três anos", começa Patrícia. "Dantes eu era heterossexual, a Margarida foi a minha primeira experiência homossexual e eu não estava muito a par do que se
fazia e dos problemas que este segmento da população enfrentava."E agora? "Não me constrange nada estar neste tipo de eventos. Para mim foi fácil assumir a minha homossexualidade. Foi tão fácil que até a mim me espantou. Acho que, a partir do momento em que se assume que sentir amor por alguém é sempre válido, é fácil. Claro que temos que enfrentar os preconceitos das pessoas. Temos que enfrentar na família, no trabalho..." Encolhe os ombros: "Há muitas pessoas ignorantes". Agora que está a par dos "problemas que este segmento da população enfrenta", diz que o que a faz sair à rua é reclamar o acesso ao
casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Quanto a Margarida, já foi casada com um homem, há muitos anos, teve uma filha, que tem hoje 25 anos, e agora, se pudesse, casava-se com Patrícia. "Gostava simplesmente de ver esta relação reconhecida com todos os direitos legais que lhe são inerentes, mais nada. Não tenho uma visão romântica do casamento; romantismo é vivermos todos os dias juntos, com as coisas boas e com as chatices que isso implica. E da cerimónia do casamento, com todo o empolamento que a sociedade de consumo capitalista e heterossexual lhe dá, também prescindo."

Margarida lembra que os casais de pessoas do mesmo sexo podem viver em união de facto, mas que isso não é igual a um casamento civil. A união de facto não permite a escolha de um regime de bens; não há um património comum; as pessoas que vivem em união de facto não são
herdeiras uma da outra (cada uma pode fazer testamento mas apenas para parte do património); as dívidas do casal são da responsabilidade exclusiva da pessoa que as contrair, mesmo se contraídas em benefício do casal.

"A maioria heterossexual acha que defendemos o casamento por uma questão de estatuto, mas não é por uma questão de estatuto", remata Patrícia. "É porque temos o direito de amar quem queremos e a ser legalmente reconhecidos. Se pudesse casar-me, também me casava." Com Margarida, claro.


Fabrício e Anderson
Para adoptar uma criança

Fabrício Figueiredo, de 22 anos, imagina assim o seu casamento: uma superfesta, cheia de amigos, com a família toda. E depois? Depois adoptar uma criança e, quem sabe, viver em Portugal com o namorado, Anderson de Sousa, de 23 anos, e o filho. "Como se fosse nosso, biológico."Fabrício está de férias em Portugal. Vem do Brasil. Anderson, também brasileiro, chegou há alguns anos a Lisboa para trabalhar numa empresa de exportação e importação de produtos. Explicam que o "Orgulho" gay celebrado em Portugal é mais modesto do que no país deles - "No Brasil participam milhares e milhares de pessoas em qualquer evento deste tipo."


Mas as diferenças não ficam pela dimensão dos festejos. "Os homossexuais portugueses são menos assumidos", diz Anderson. "Os brasileiros dizem: 'Sou gay e tenho orgulho nisso.' Eu, por exemplo, nunca me senti rejeitado pela minha família. Quando assumi, as pessoas ficaram um pouco ansiosas, mas, com o tempo, isso acabou. Cá não é assim. As pessoas têm mais medo."


Mas não há só diferenças entre ser gay em Portugal ou no outro lado do Atlântico. Também no Brasil o casamento civil que Fabrício assinalaria com a superfesta está vedado a casais de pessoas do mesmo sexo. Tal como a adopção de crianças. É sobretudo por causa deste último aspecto que cá, como lá, Anderson sai à rua para protestar. "Temos a mesma capacidade de cuidar de uma criança que um casal heterossexual. É preconceito achar que não. É isso que temos que explicar às pessoas. Acho que elas vão acabar por entender."



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Blog: polyportugal.blogspot.com

Arranca hoje o projecto www.polyportugal.blogspot.com.

Somos (sim, yours trully vai tentar dar uma ajuda por lá) um grupo de pessoas mais activas dentro do colectivo polyportugal e tomamos o compromisso de escrever uma vez por semana. Achamos que a união faz a força, e que a diversidade é uma das maiores e melhores características do polyportugal. Sendo assim, tentamos num só blog ter pelo menos 7 visões e/ou vivências diferentes e pessoais do poliamor.

As vossas opiniões e comentários como sempre são bem vindos e desejados.

Ah! para quem não sabe ou quer saber mais sobre o polyportugal, vejam o novo link ali ao lado, do lado direito... e já agora os outros...

No que me diz respeito, continuarei a escrever aqui, com a irregularidade a que já vos habituei.

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6.21.2009

Do Público " A última fronteira para os casais é a monogamia"


O vosso serviço público, uma vez que o Público não disponibiliza arquivo ou backlinks.
O artigo abaixo é sobre o livro de Esther Perel, Amor e Desejo na Relação Conjugal

Jornal Público


"A próxima fronteira para os casais é a monogamia"

26.03.2008, Bárbara Simões

Nunca como agora se pediu tanto a uma pessoa numa relação amorosa: afecto, compromisso, respeito, estabilidade, filhos, compreensão, amizade, confiança... E sexo escaldante, claro. Difícil? Nem por isso - dificílimo. A terapeuta Esther Perel, por estes dias em Portugal, é autora de um best-seller sobre o assunto

Está tudo nesta imagem: uma camisa de noite de flanela. É assim que Candace, 30 e poucos anos, se refere ao seu casamento de sete com Jimmy. Quentinho e confortável, simpático mas não excitante. "- O que lhe sei dizer - afirma - é que a bondade dele me faz sentir segura, mas quando penso num homem com quem queira ir para a cama não é segurança que eu procuro.
- Por não ser o quê? - pergunto. - Suficientemente transgressivo? Suficientemente agressivo?- Por não ser suficientemente agressivo."

Candace e Jimmy foram um dos muitos casais que pediram ajuda a Esther Perel e cuja história é contada no livro Amor e Desejo na Relação Conjugal, este mês editado em Portugal pela Editorial Presença. A questão, que a tantos atormentava, intrigou e ao mesmo tempo fascinou esta terapeuta familiar e de casais numa clínica privada do Soho nova-iorquino: "O que é que acontece a estas pessoas que parecem amar-se tanto mas não têm sexo?" Ainda por cima, lembra ao P2 numa entrevista em Lisboa, antes de seguir para o Porto - onde a partir de hoje participa num congresso mundial de terapia familiar -, "esta é a primeira geração que coloca o desejo no centro da vida sexual." Vencida a revolução sexual, conquistada a pílula e, em traços gerais, a igualdade, as pessoas podem fazer o que lhes apetecer. O problema é que lhes apetece pouco, ao fim de algum tempo numa relação. Esta é também, por isso, "a geração que quer querer".E o que Esther Perel (49 anos, casada e mãe de dois filhos) quis foi "entender este dilema dos casais modernos", atentar na diferença entre amor e desejo e "questionar muito do que a psicologia e as revistas femininas nos dizem". A intimidade traduz-se muitas vezes em "sexo domesticado" ; e o erotismo "requer distância, risco e alguma dose de egoísmo", por muito politicamente correcto que seja proclamar os méritos da proximidade e da transparência."Um excesso de fusão erradica a existência independente de dois indivíduos distintos. Deixa de haver uma ponte para transpor, alguém para visitar do outro lado", escreve neste seu primeiro livro a terapeuta, nascida e criada na Bélgica.Os tempos são exigentes. De maneira mais ou menos acentuada, foi-se desmoronando (ou pelo menos ficando cada vez mais longe) toda uma rede que sempre nos tinha amparado, garantido sentido de pertença e evitado que nos sentíssemos sozinhos: família, religião, aldeia, vizinhos, bairro...
Repensar tudo

Assim "transplantados" (é esta a expressão usada), deslocámos tudo para a relação amorosa e pedimos agora a uma única pessoa que nos dê aquilo que toda uma comunidade costumava assegurar. "Isto nunca aconteceu antes", observa Esther Perel. "Eu quero de ti tudo o que antes tinha no casamento - compromisso, respeito, filhos, apoio financeiro - e ainda que sejas o meu melhor amigo, meu confidente e meu amante apaixonado."Pede-se muito mais e por muito mais tempo, uma vez que a esperança média de vida não cessa de bater recordes e a vida é hoje, por regra, mais longa. "É verdadeiramente fascinante." Só fascinante ou também possível? "É possível, mas obriga a repensar toda a estrutura da relação", responde.Repensar, negociar fronteiras e limites - é uma das mensagens que percorrem este Amor e Desejo na Relação Conjugal. A avaliar pelo sucesso do livro, publicado em mais de 15 países, a mensagem toca muita gente. A autora simplifica: "Não digo coisas que as pessoas não saibam. Digo apenas coisas que toda a gente sabe mas não diz."E o que é que Esther Perel diz? Várias coisas (para além da tal ideia de que a intimidade não só não é garantia de uma vida sexual satisfatória como até se dispensa para isso). Por exemplo: quebra de desejo não significa falta de amor; os problemas sexuais não têm necessariamente a ver com problemas na relação ("a cozinha e o quarto são duas histórias diferentes") ; a paixão vai e vem, não tem de ser sempre a descer à medida que a idade avança; neste campo, a espontaneidade é um mito; a infidelidade "às vezes até ajuda a estabilizar um casamento".

Perel esclarece que não "receita" soluções. Deixa sugestões que possam ajudar as pessoas a viver menos conformadas e a não estarem completamente fechadas a outras formas de pensar e de combater uma relação em cristalização. No livro conta que, quando atende um casal pela primeira vez, pergunta sempre como foi que se conheceram e o que é que os atraiu um no outro. E é quando ouve as respostas que consegue "vislumbrar, por entre os escombros, o que um dia tiveram" e gostariam de recuperar. Adele, uma advogada de 38 anos, tem saudades do nó no estômago, "aquela palpitação". Está casada com Alan há sete anos. "Quando nos conhecemos, ofereci-lhe uma pasta pelos anos, uma coisa que ele tinha visto numa montra e que tinha adorado, e enfiei lá dentro dois bilhetes de avião para Paris. Este ano dei-lhe um DVD e comemorámos com uns amigos à volta de um rolo de carne que a mãe dele fez. Não tenho nada contra os rolos de carne, mas foi a isto que chegámos."Como é que se sai disto? Beatrice optou por, durante uns tempos, deixar de morar com John, numa tentativa de recuperar independência e alguma tensão. Candace e Jimmy foram temporariamente proibidos de se tocar (só olhinhos e bilhetes, mais nada). Jackie e Philip foram aconselhados a namoriscar e a criar um e-mail só para trocarem mensagens eróticas. Catherine e o marido cultivam uma fantasia na qual ela é uma prostituta cara. Cada um fixa os seus limites e eles também mudam com os tempos. Hoje, lembra Esther Perel, "temos muito mais modelos com que lidar": famílias monoparentais, homossexuais, segundos casamentos.. . E a monogamia, "a vaca sagrada do ideal romântico", deixou de ser uma imposição e passou a ser uma convicção. "É uma escolha e é uma questão de amor. Mas isto é uma ideia nova..." E em seu entender ainda vai dar muito que falar: "A próxima fronteira, a próxima discussão é a monogamia."

Negociar fronteiras
Por enquanto, observa, "os únicos que neste campo negoceiam abertura são os gays (homens, as lésbicas nem tanto)". No mundo dos casais heterossexuais a exclusividade é "geralmente assumida, não é negociada".
Mas muitos "estão a tentar encontrar uma alternativa" , porque entendem que até nem funcionam mal como casal" e interrogam-se: "Devo deixar tudo isto porque não temos sexo escaldante? O sexo nem é mau, mas de vez em quando gostava de sentir aquela outra coisa... Posso tê-la contigo? Talvez sim, talvez não, talvez não agora..." E optam por "negociar as fronteiras dentro da relação". Onde as colocam já não é a terapeuta que decide. "Digo apenas: este é o tipo de coisas em que precisam de pensar." No mais recente inquérito promovido pela Durex, as mais de 317 mil pessoas ouvidas em 41 países tinham em média relações sexuais 103 vezes por ano. Os portugueses ficavam ligeiramente acima da média (108). Os gregos (138) lideravam a tabela, os japoneses (45) ocupavam a última posição. Esther Perel recusa-se a quantificar o que é um casamento sem sexo. Para além da diminuição da frequência, preocupa-a o tédio. E algumas "certezas" que se instalaram. Eddie era visto pelas mulheres como alguém que temia compromissos. Está casado com Noriko há 12 anos, têm dois filhos. Quando se conheceram, ela quase não falava inglês e ele não percebia uma palavra de japonês.
"Acho que foi por não podermos falar que tudo isto se tornou possível. A Noriko e eu tivemos de arranjar outras maneiras de demonstrar quanto nos queríamos. Cozinhávamos muito um para o outro, dávamos banho um ao outro. Eu lavava-lhe a cabeça. Íamos a exposições de arte. Não era que não comunicássemos; só não falávamos." Mais um mito para deitar abaixo.

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Vacations in Slutglen (Ferien in Schlampenau)

The invitation video for Vacations in Slutglen (poly summercamp for Women and Trans) is ready:

http://www.youtube.com/watch?v=8e08T6jlB9w

(please forward to anybody who might be interested).

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6.16.2009

Do DN: Proibição dos Piercings e Saúde Publica

A noticia é antiga e não sei se não terá ficado tudo em águas de bacalhau. O PS propôs, em Abril do ano passado, a proibição de piercings em zonas sensíveis do corpo, com o argumento da ameaça para a saúde publica que isso pode representar...

Não está aqui em causa defender ou não a prática de piercing, mas sim se faz sentido ou não, em primeiro lugar, regulamentar em função de supostos dados científicos, em segundo questionar a validade desses dados científicos, e terceiro apontar o erro de lógica na limitação de liberdades individuais sem que isso traga beneficio à tal saúde publica que estão a tentar proteger.

Diria que, em relação ao primeiro ponto, não é a aplicação de piercings que é um perigo, mas a sua eventual colocação em más condições. Assim como quecas, são um perigo para a saúde publica se houver más condições de higiene ou pouco cuidado com a transmissão de doenças. No entanto, ninguém ainda se lembrou de proibir as quecas, protegidas ou não. A pobreza, também é um problema de saúde publica, mas ainda ninguém se lembrou de proibir as pessoas de ser pobres.

Em relação ao segundo, há parecenças com o primeiro, por um lado gostava de ver os dados científicos que foram eventualmente levantados para fazer esta proposta (ou será que foi apenas uma ideia baseada em preconceitos contra as minorias que usam piercings?). Por outro lado, também gostava apenas de ver uma separação de trigo do joio. Acho que não fico zangada com uma lei que tente regulamentar em que condições (higiénicas, consentimento de adultos, etc) um estabelecimento público pode ou não efectuar um serviço (Aplicação de piercing). Mas não vejo porque é que o Estado decide por mim o que é bom para mim ou não, ou argumenta saúde publica, quando o perigo não está no piercing mas na sua má aplicação. Pode-se dizer que um mau ortopedista também pode fazer muitos danos, mas ninguém vai proibir a ortopedia, quando muito vai verificar ou controlar a boa aplicação da ortopedia.

Em relação ao terceiro, não vejo em que é que o Estado tem alguma palavra a dizer se eu, na privacidade da minha casa, fizer um piercing a mim mesma ou, consensualmente, a outra pessoa que confiou em mim. Tem os riscos que as pessoas envolvidas decidiram assumir juntas, e que qualquer adulto sabe que estão envolvidos. Da mesma maneira que na tal queca ou no ser pobre ou ir ao ortopedista.

http://dn.sapo.pt/2008/03/15/sociedade/ps_quer_proibir_piercings_zonas_sens.html

Porque é que isto é relevante neste blog? ora bem, "controlo do estado da vida privada", "defesa da liberdade individual" e "sex-positive" (estou a pensar em algumas práticas pessoais - para quem gosta - que envolvem aplicação consensual de agulhas, temporária ou definitivamente).

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6.13.2009

summercamp poly feminista: Ferias em Vale Galdérias III

A "yours trully" agradece divulgação a um evento que está a co-organizar.

Trata-se da 3a edição do "*Férias em Vale de Galdérias* (Ferien in Schlampenau)", um campo de férias de orientação feminista para pessoas poly, mais precisamente para senhoras de todos os géneros (*)

Todas as tias solteiras, lambisgóia, galdérias, poly-interessadas, monstros dos beijinhos, curiosas, polys de alto e baixo coturno, ou simplesmente todas aquelas que se interessam por relações que não tem a monogamia como a primeira prioridade são bem vindas, e é a pensar em *vocês* que o campo de férias foi organizado.

Temos a oferecer a possibilidade óbvia de passar férias num ambiente em que não se tem de explicar durante horas a fio como se vive, ou seja, quase "entre iguais", algumas workshops, e um ambiente idílico. A parte do flirt fica à responsabilidade das participantes, não é da responsabilidade da organização.

As workshops são maioritariamente em alemão, mas com possibilidade de tradução informal. Notem que isto é por vossa conta e risco, e que a organização não assume responsabilidade pela existência ou qualidade da tradução. A maior parte das participantes fala inglês e gosta de ajudar.


(*) Este campo de férias é um evento para mulheres pensado no contexto da divulgação da cultura feminista. Pessoas transgéneros que se sentem parte desta cultura, são bem vind@s.

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Informação e inscrições: www.diepolytanten.de.tc

6.08.2009

Algumas impressões: 15 Maio - Contra as novas/velhas inquisições

Deixo-vos algumas fotos tiradas durante a acção "Contra as Velhas e Novas Inquisições"


os preparativos, na sede da UMAR:


o arranque:



o cortejo penitencial:





o tribunal eclesiástico:



os réus impenitentes:

uma defesa:


os condenados:


Lisboa, cidade da tolerância?


6.06.2009

International polycamp near Berlin

Na Europa vai havendo actividades e gatherings poly. A "yours trully" organiza, além de encontros poly regulares na cidade onde arrasta a sua galderice, um summercamp poly para mulheres e trans (ver: www.diepolytanten.de.tc, 8-15 Agosto no Maulkuppe, perto de Fulda), mas hoje vai-vos mostrar o evento aberto para todos.

Vai ser de 13 a 19 de Julho, em Groß Köris (perto de Berlim, à beira de um lago), e é um evento auto-organizado, ou seja, workshops e palestras serão organizados à medida que as pessoas chegarem e outras mostrarem interesse (ou não). Esperam-se cerca de 150 pessoas. custos rondarão os 100€ para a semana toda (incluindo camping, e uso das instalações). Para quem não gosta de acampar, há a possibilidade de ficar em pequenos apartamentos a 200€ por pessoa.

Embora eu não esteja envolvida na organização deste evento em especial, se alguém tiver duvidas ou dificuldades em obter informação necessária, principalmente pessoas que queiram vir de Portugal, pode entrar em contacto comigo (ver mail no rodapé deste blog), terei prazer em ajudar.


Mais detalhes e contacto:

http://planetpoly.org/camp
http://free-creatives.net/polywiki/index.php/Polytreffen,_internationales_Sommercamp_2009

6.02.2009

what you can loose: polydrawbacks

Para sair um pouco do registro "o poliamor é lindo", relembramos hoje que nos podemos meter em sarilhos ao assumirmos publicamente o nosso modo de vida.

Houve quem já o tenha feito de modo sistematico, por isso nao vamos reinventar a roda. Leiam, tomem notas, mas nao se assustem. o poliamor continua a ser lindo.

http://www.polyfamilies.com/polydrawbacks.html