1.25.2010

trios, mais um livro e uma história na primeira pessoa..

Ameacei comecar e continuar a falar de trios há cerca de duas semanas....


Continuo por aqui muito contente com o meu trio, uma das componentes da minha vida emocional raramente aborrecida. Estava relutante em falar disto porque ainda não definimos a coisa, e até porque precisamente o não ter definido a coisa com elas me estava a fazer comichão, a mim, académica empedernida. Até que tive uma epifânia, por voz de uma delas, a mais prática e mais "novata" nestas andanças não monogamicas, a propósito do sentimento que tem acerca de ter uma neta que é a neta da ex-namorada: "Eu não quero saber o que é que vocês lhe chamam ou mesmo eu cá por dentro lhe chamo, mas o que me interessa é o que eu faço ou que esperam que eu faço. Estou me a borrifar como se chama a relação que tenho com ela. Eu só sei que a minha neta precisa de mim, apita, assobia, ri ou chora, e eu estou lá no mesmo instante".

E sim, se calhar não é preciso ir buscar o arsenal de nomes e definições.. Somos amigas? Somos amantes? Queremos ser amantes? Queremos ser amigas? o que é que isso interessa se se calhar até temos nomes iguais para práticas diferentes ou nomes diferentes práticas? se calhar a coisa é toda simplificada por concordarmos no que queremos fazer juntas e no que queremos dar umas às outras. E o resto fica para discutir ociosamente num dia de chuva preguiçosamente passado em casa.

E para quem tudo isto é muito pessoal, fica mais um livrinho mais ou menos indiscreto acerca de trios. Para quem leu o seu Jack Kerouac "On the Road" e tem olho para especular para além das aparências, o livro Off the Road: Twenty Years with Cassady, Kerouac and Ginsberg by Carolyn Cassady nao trará surpresas. Trocando por miúdos, a mulher de Neal, e amante de Jack, conta a sua versão dos acontecimentos que deram origem a "on the Road" e da sua vida com o seu marido - o modelo para a personagem Dean Moriartry. Por um lado ela revela claramente o que se passa entre Jack e Neal, mas apenas sugere ambiguamente uma relação física entre os dois homens.

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1.20.2010

Divulgacao: Grupos locais da Rede ex Aequo

Passo a divulgar o press release da rede ex-aequo e saúdo a abertura de novos centros. Há que tirar o chapéu por ser das poucas iniciativas descentralizadoras e duradoiras realizadas pela e para a comunidade LGBTS...
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Olá!

Somos a rede ex aequo - associação de jovens lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros e simpatizantes em Portugal, que tem como objectivo trabalhar no apoio aos jovens LGBT e na mudança de mentalidades quanto a questões relacionadas com a orientação sexual e a identidade de género.

A nossa associação é composta por membros de todo o país - continente, Açores e Madeira - jovens que seguem de perto os nossos projectos, que dinamizam o convívio e actividades, que contribuem com o seu trabalho voluntário para que a rede ex aequo cresça, tenha cada vez mais presença na sociedade de modo a conseguirmos chegar a cada vez mais jovens como tu! Organizada e feita por jovens, para jovens!

Queremos falar-te de um dos nossos projectos – os grupos de jovens locais – e vimos através da Blogayesfera dar-te a conhecer o seu funcionamento.

A associação tem grupos de jovens locais de apoio a lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros e simpatizantes a funcionar em Aveiro, Braga, Cascais, Coimbra, Évora, Faro, Leiria, Lisboa, Porto e Viseu. Nas reuniões destes grupos conversa-se sobre temas variados, que estão de algum modo total ou parcialmente ligados à temática LGBT, geralmente através de dinâmicas de grupo/exercícios pedagógicos divertidos que pretendem justamente ajudar-nos a falar sobre assuntos onde se calhar não teremos espaço ou com quem falar noutros locais.
Apresentamos-te a rede ex aequo e convidamos-te a participar nas reuniões, a travar amizades, a tirar dúvidas, a partilhar conhecimentos e a contribuir para uma sociedade mais justa e informada.

Em especial, vimos alertar-te para o reaberto grupo de Leiria e o recém-criado grupo de Cascais! Há algum tempo que vêm sendo pensados e são agora uma realidade. O grupo de Leiria vai estrear-se com a sua primeira reunião dia 23 de Janeiro de 2010; o grupo de Cascais foi fundado no passado dia 16 de Novembro de 2009 e começou já as suas actividades. De que estás à espera para nos fazeres uma visita!? =D

Reunimo-nos, por norma, todos os segundos e quartos sábados de cada mês, podes encontrar mais informação sobre os grupos em www.rea.pt/leiria/ e www.rea.pt/cascais

Não deixes de visitar o fórum da rede ex aequo onde poderás encontrar o grupo virtual da tua cidade e conversar com muitos outros jovens! Em www.rea.pt/forum

Este espaço virtual da rede ex aequo também se destina a familiares e amigos de jovens LGBT, que poderão igualmente encontrar aqui apoio e informação.

Os grupos locais não têm de se restringir apenas a estas cidades, poderás também tu abrir um grupo ex aequo na tua cidade ou região. Quem sabe não virás um dia também a contribuir mais activamente para esta família de jovens. Existem muitos mais meios de participação, informa-te sobre a associação e junta-te a nós ;)

Podes encontrar toda a informação sobre a associação no site da rede ex aequo, em www.rea.pt/
Contamos contigo e diverte-te!

Um obrigado ao autor deste blogue pela ajuda na divulgação da nossa associação!

Cumprimentos,
A Direcção da rede ex aequo

O conteúdo deste blogue não é da responsabilidade da rede ex aequo e este encontra-se formalmente dissociado do mesmo.


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1.15.2010

Referendemos o Casamento heterosexual!

Palmado do blog da ATTAC. E dedicado a quem, com simpatia pela possibilidade de haver relações com mais do que uma pessoa, ou em que o género não tem que meter prego em estopa, se fartou de tantas asneiras ditas a propósito da extensão da lei do casamento às pessoas do mesmo sexo. Eu assinei.

http://www.petitiononline.com/cpsd/petition.html


ao parlamento português

Um grupo de cidadãos portugueses inicia neste dia as diligências necessárias ao lançamento de uma iniciativa popular que proporá a realização de um referendo que incidirá sobre a seguinte pergunta:
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“Concorda que o casamento possa ser celebrado entre pessoas de sexo diferente?”

A definição do conceito de casamento de forma a nesse contrato incluir uniões entre pessoas de sexo diferente cristaliza o instituto milenar, que tem sido mutável em todas as épocas da história e a todas as civilizações. 

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É de exigir que uma petrificação com este alcance histórico e civilizacional seja directa e claramente apreciada pela vontade popular.
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A mesma exigência de debate se deve colocar sobre a admissibilidade da adopção por uniões de sexo diferente, e ainda que a procriação seja aprovada caso a caso avaliado por comissões específicas de forma a proteger a criança.
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A opção sobre estas questões atravessa transversalmente o eleitorado dos vários partidos 
políticos e é patente que não reúne consenso, conforme se constata pelo número de deputados divorciados. 


Nas últimas eleições legislativas, este assunto não foi suficientemente debatido, de modo a poder deduzir-se a vontade dos portugueses acerca dele. 
Os partidos negligenciaram notoriamente nos seus programas o ‘casamento’ entre pessoas de sexo diferente não podendo os eleitores manifestar-se acerca desta premente questão.

O Referendo é o mais fiel amigo da democracia participativa e da expressão da vontade 
popular. O poder é do povo e a classe política não tem de se comprometer com decisões arriscadas para com o status quo.
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O instituto de Referendo tem sido utilizado com frequência noutros Estados para decidir sobre esta mesma questão, a vida da vizinha, a regionalização ou a independência da Madeira.

Os filhos de pais recém divorciados têm uma palavra a dizer, assim como os de pais casados.

A minoria que se casa todos os anos não pode impor ao resto da sociedade que aceite os seus "casamentos" feitos livremente e ao deus dará, muitas vezes com consequências nefastas como o divórcio, lares desfeitos e partilhas onerosas.


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1.10.2010

Ménages à Trois: o livro

não chegarei ao exagero de proclamar como Rilke que o "amor ideal é a três". Embarquei recente e alegremente em mais uma historia a três. Sim, não é a primeira e espero que não vá ser a ultima. Nao vou começar a contar -vos como eu com cinismo empedernido já acho isto normal, mas sim precisamente o contrário, dizer vos como me continuo a maravilhar com a beleza frágil e improvável destas constelações. Trios não são particularmente robustos ou estáveis (falo-vos de trios, não de "V"s, e falo-vos de trios para alem da duração duma noite curta de verão, ou do que é apenas habitualmente tratado entre lençóis), e exigem, mesmo quando correm bem muita atenção, continência e cuidado. Estou grata a seja o que for que faz com que estes episódios que tanto aprecio continuem a acontecer, e sempre com grande intensidade, sinceridade e beleza. E adoro o Design for Living, que nos mostra que isto não é modernice.

Tenho mandado uns bitaites acerca de trios ao longo dos anos, porque sempre me marcaram pela sua intensidade e beleza e por os não tomar como coisa óbvia ou fácil. Quem quiser, estão no Our Laundry List (que a propósito, completa 5 anos de existência) sob a tag "trios" (http://laundrylst.blogspot.com/search/label/trios)

Tenho engatilhada uma série de artigos sobre trios, que espero finalmente me tirem do meu bloqueio literário, e que já agora me tornem rica e famosa, mas para começar deixo vos com um livro que não é propriamente profundo ou um poço de beleza e poesia, mas que é uma boa plataforma de embarque para os curiosos. Trata-se do livro "Three in Love: Ménages à Trois from Ancient to Modern Times" (Barbara Foster, Michael Foster and Letha Hadady). Os três autores, de backgrounds bastante diferentes e supostamente com conhecimento de causa acerca de trios, tentam construir uma história da Ménage à Trois desde a idade média até aos dias de hoje. Para os cuscos ou simplesmente curiosos, a lista de personagens históricas comprometidas em trios é espantosa.

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1.02.2010

Gestão de tempo.

O tema da gestão de tempo é um tema recorrente a propósito de poliamor. Tornou-se também pessoalmente premente para mim ultimamente, e acabei por escrever um texto para uma publicação local do qual apresento aqui um resumo traduzido.

Para quem vê poly de fora, pela primeira vez, e pensa nas coisas com alguma seriedade, a questão da gestão do tempo surge quase automaticamente. Nem sempre, mas frequentemente, uma relação monogâmica assume que o tempo livre dx nossx parceirx é automaticamente tempo da relação. A pergunta que devolvo, é, essa assumpção é automática ou foi pensada? é que se foi pensada e conscientemente aceita, acho muito bem, divirtam-se, e ficamos por aqui. Mas lanço alguns desafios a quem fez essa assumpção sem sequer dar por isso (muito fácil, mais fácil do que se pensa).

Na verdade, a maioria das considerações e questões acerca da gestão de tempo, fazem sentido para qualquer relação, seja poly ou não.

A gestão do tempo passa por sabermos em primeiro lugar, não quanto tempo precisamos (ou "elxs" precisam) para a relação, mas quanto tempo precisamos em geral, em particular, e para que. Sugestões de categorias para dar nomes aos bois e facilitar este exercício, são:

1) tempo para nós próprios (ler, hobbies, olhar para as paredes, todos os rituais que são nossos e fazem sentido apenas sozinhxs)
2) tempos para os nossos encargos (impostos, dividas, compras, trabalho, higiene, casa)
3) tempo para amizades e vida social (nem sempre queremos misturar amizades com a vida de relação)
4) tempo para sexo (o sexo, tal como o tempo, é um território pessoal, e não da relação)
5) tempo para recuperação emocional (relações emocionalmente intensas).
6)..

O exercício seguinte é repetir as mesmas perguntas com categorias semelhantes para cada parceirxs envolvidx. Se soubermos quais as condições de fronteira é mais fácil resolver o problema e descobrir os possíveis pontos de encontro. Porque nesta ordem? porque se não somos capazes de definir e defender as nossas próprias prioridades, provavelmente não seremos capazes de respeitar o espaço dxs parceirxs ou de não nos perdermos num enorme e esmagador espaço da relação.

Sim, é boa ideia perguntar-mo nos se queremos envolver parceirxs nalgumas daquelas actividades. Mas é boa ideia não o fazer automaticamente, e decidir isso em boa consciência e com cuidado.

O conceito que talvez seja muito revolucionário, e bastante divulgado em meios poly, é que o tempo é uma coisa nossa. Não pertence a mais ninguém, nem ninguém tem direitos especiais acerca do nosso tempo, independentemente de ser ou não nosso parceirx ou amigx ou chefe de departamento.

Um possível passo seguinte, é em caso de conflitos de interesse, usar não só uma comunicação eficiente, seja qual for o estilo pessoal de cada um, mas que seja clara e eficiente e sem ambiguidade, mas também, porque a comunicação sozinha, coitada, não chega, uma postura de respeito e generosidade. Lembrem-se, malta, é uma relação, não é negociar um leilão, nem ganhar um troféu, a ideia é partilhar sentimentos positivos, dar amor, dar o nosso tempo. E por fim, talvez não seja preciso relembrar que é boa ideia respeitar os compromissos assumidos.

o tempo é a única coisa que é limitada. O amor pode ser quase ilimitado, mas o tempo é finito. Mesmo aplicando toda a sabedoria e todo o cuidado do Mundo magoaremos sempre outras pessoas devido à gestão do tempo ou de expectativas associadas com ele. Mas tentar contornar os problemas mais comuns, antecipar e eliminar expectativas não realistas por parte de outrem, e tentar sanar os conflitos que não conseguimos evitar, pode evitar a maior parte dos contratempos habituais.

Espero que este texto ajude, a mim ajudou.

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