12.26.2005

Casamento a três

Mais um artigo, mais um caso, mais um tijolo. A Polyamory está a começar a sair do armário, e aposto o que vocês quiserem que se vai ouvir falar muito disto no próximo ano. Stay tuned at the usual watering holes.

Um trio faz um contracto de coabitação na Holanda como subterfúgio para atingir o reconhecimento ao nível de um "casamento". A mesma lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo e prevê contractos de economia comum parece prever a legitimação aos olhos da lei de "casamentos" plurais.
a
O artigo descreve a historia das pessoas envolvidas e faz uma análise das consequências legais:
http://www.weeklystandard.com/Content/Public/Articles/000/000/006/494pqobc.asp

Acerca da questão, "como seria em Portugal?" passo a citar uma advogada (M.R,):


> Allô, Allô,
>
> Finalmente li o artigo que me enviaste. Falam em
> "contratos de coabitação" como sendo o subterfúgio
> legal de conseguir o casamento. A mim parece-me que
> cá isso seria impossível, em primeiro lugar porque
> não existe a figura dos contratos de coabitação, e
> em segundo lugar, porque, mesmo que fosse possível
> celebrar um contrato deste género com base no
> princípio da liberdade contratual, acho que nenhum
> notário reconheceria validade legal a esse contrato,
> até porque o seu conteúdo seria contra a lei (uma
> vez que reconheceria a bigamia). Consequência, mesmo
> que se conseguisse fazer e validar um contrato deste
> tipo, incorreria-se em dois "perigos": a falta de
> valor legal do contrato e crime de bigamia.
>

Obrigada ao Vasco pelo link. Mais discussões sobre este tema disponíveis na mailing list do poly-pt.


Mais umas achas do Vasco:

"Parece que há um regime de economia comum para 2 ou MAIS pessoas. Parece-me interessante, muito mais que o casamento…leiam a lei e digam de vossa justiça.

http://www.portugalgay.pt/politica/parlamento02.asp

E o das uniões de facto que é apenas para 2 pessoas:

http://www.portugalgay.pt/politica/parlamento03.asp "

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12.15.2005

Encontro no Fim do Mundo: os Moso

(Ou mais um post sobre não-monogamia)

Um documentário a ver, se possível: "
Un monde sans pére ni mari: chez les Moso", (Eric Blavier, Thomas Lavarechy).

Na verdade não vi o documentário. Ouvi os comentários em segunda mão e desencadeei uma busca na net. Não vou escrever tudo aqui para vos deixar o prazer da descoberta e da investigação.

Os Moso são um povo que vive na China, junto ao Tibete, nas margens do lago Lughu. São 30.000 pessoas que tem visto as suas tradições bastante antigas mais ou menos preservadas.

Em poucas palavras, a sociedade Moso é matriarcal. As mulheres têm o papel predominante na sociedade e querem, podem e executam todas as tarefas. O poder e a influência passam da mãe para a filha que ela considera mais inteligente.

A mulher ao chegar à idade adulta adquire o direito de escolher amantes que recebe em casa dentro de um esquema que preserva a discrição mas que não tem nada de clandestino. As crianças que nascem destes enlaces são criadas dentro da família, ás quais o pai biológico não pertence. Pares que se amam encontram se discretamente mas em liberdade e sem compromisso. Por outras palavras, não usam do conceito de monogamia.

Não existe palavra para marido nem para pai, o que não quer dizer que os homens não participem da educação das crianças ou da sociedade em geral. Simplesmente desaparece completamente a ideia do pai biológico com direitos sobre a prole e a ideia de patriarca.
Adicionalmente, não há crime nesta sociedade, que não é tão pequena como isso. Ainda menos há crime passional. O ciúme é considerado uma doença infantil, que aparece muito pouco e, que ao contrário de entre nós, ocidentais, quando aparece não é encorajada.

O que vos mostro aqui não é o modelo que eu quero seguir, ou a sociedade utópica dos meus sonhos. É apenas mais um modelo dissidente daquele em que crescemos e nos habituamos a pensar que é o único possível. Quero apenas mostrar que em termos de relações, se não tentamos seguir o modelo monogâmico e patriarcal ocidental em que crescemos, há provavelmente tantas soluções como pessoas. Este é apenas um dos modelos possíveis. Não é o que eu escolheria, embora me pareça melhor do que é mainstream entre nós.

Link para o documentário: "
Encontro no fim do Mundo, o povo Moso", (Eric Blavier, Thomas Lavarechy).

Link para um artigo que
comenta o documentário.

Link para o resumo do romance "
Leaving Mother Lake": para quem não quer seguir a documentação mais sociológica, está aqui um romance à volta de uma jovem Moso que deixa a sua vila para seguir uma carreira como cantora e se confronta com a cultura chinesa: Leaving Mother Lake

e um link para o livro Quest for Harmony: The Moso Traditions of Sexual Union and Family Life

E finalmente um
artigo cientifico sobre adopção e casais convencionais à luz da sociologia dos Moso.

(Agradeço a K. a dica, mesmo quando não apoia a ideia de poliamory, mas me apoia a mim, e aproveito e agradeço um ano fantástico!)

boa leitura!

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