8.30.2007

"Affrerements"





http://www.journals.uchicago.edu/press/082007_JMH.html
(para começarem).


Façam um search no motor de busca da vossa preferência por "affrérements".


Embora fossem um tipo de relação bem conhecido de vários historiadores que se tenham debruçado sobre o Sul da Europa nos tempos medievais (ver por exemplo "Queer Ibéria" ou "Born to be Gay" para uma resenha sobre este tema ou mais bibliografia), é preciso aparecer um estudo por académicos trans-Pirinéus para que o resultado tenha visibilidade e seja levado a sério. Há casos semelhantes conhecidos e sobejamente apontados para a Península Ibérica. (rant mode off).


Resumindo e limitando-me à verdade dos factos, "affrérements" foram algo parecido (digo "parecido" por motivos explicados abaixo) com uniões civis reconhecidas e em que as partes envolvidas juravam partilhar "um pão, um vinho e um bornal". Ao que tudo indica, previa mecanismos automáticos de herança, e toda a propriedade passava a ser pertença de ambos. A afeição entre as partes parece ser condição sine qua non para este juramento. O autor do artigo, que usou no seu estudo diversas fontes incluído tipos de sepultamento em cemitérios públicos, defende que estas uniões foram algumas vezes sim, outras não, usadas para legitimar uniões sentimentais de indivíduos do mesmo sexo. A diferença cultural e epistemológica que nos separa, cabecinhas mimadas do século XX/XXI, da Idade Média de há 600 anos, não permite, em toda a verdade, fazer uma analogia e saltar para conclusões como as que a imprensa LGBT parece estar a fazer: títulos como "Coming out in the middle ages" ou "Homosexual legal unions bla" (Ex: http://www.gay.com/news/article.html?2007/08/24/5). Um pouco irritante para não dizer abusadora, esta mentalidade mono-normativa actual a assumir que também na Idade Media será o sexo entre pessoas a definir a afeição e o tipo de relação. Há alturas em que não consigo estar do mesmo lado da barricada sem alguma "reserva moral". De qualquer modo, onde parecemos estar todos de acordo, é que os "affrérements" eram relações entre indivíduos entre os quais havia afeição e que a sociedade não parecia estar contra.


Há mais pontos que se poderiam referir aqui, mas acho que vos deixo esse prazer… Boa leitura.


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8.23.2007

Quotideano delirante V



Quotidiano delirante poliamoroso é....

.... Começar a contar uma historia á tua namorada e ela dizer que o teu namorado já lhe contou, quando foram emborcar cerveja juntos há já bué da tempo...
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"Fogo, já te disse que já ouvi essa história! já te disse que o (insert name here) já me contou, ou já te esqueceste que a gente vai volta e meia beber cerveja juntos?"

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8.20.2007

Campo de férias poli-gajeiro


Wake up call:



Aproxima-se a data do Campo de férias para senhoras poliamorosas. Será de dia 28 Agosto até 2 Setembro no Beginnenhof Taennisch, na Turíngia.

A ideia da organização não é apenas proporcionar repouso e oportunidades de contactos a todas as mulheres participantes (o lema deste ano é "Até as mulheres poliamorosas precisam de vez em quando de descanso"), mas também aproveitar a oportunidade para fazer algumas workshops e trabalhos de grupo que sejam pertinentes a todas as presentes. para quem não tem pachorra para actividades tão sérias, pode se ir nadar no Ilm, passear na floresta, aprender a mungir as cabras, ou fazer queijo.

O numero de vagas está limitado a 30 galdérias, as refeições serão cozinhadas e organizadas em conjunto, alojamento em tendas e esperemos que seja também uma grande rebaldaria.


mal posso esperar!

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8.17.2007

Pensamento do dia: porque ninguém percebe o que poliamor é..


A frase não é minha, foi o comentário de uma amiga minha como resposta ao meu desabafo "porque é que ninguém consegue (tentar) perceber o que é poliamor além dos que lá estão metidos até ás orelhas?":


"Só uns poucos perceberão o que é poliamor, porque a verdade é bastante insípida quando comparada com as fantasias delirantes que eles têm acerca disso… e depois perdem o interesse em saber mais…" (G.E.)



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8.15.2007

penitencia e adulterio



o que diz a concorrência:

http://www.filosofia.org/mor/cms/cms1457.htm

"Qué es adultério? R. es: accesus ad alienum thorum. "

Ok, gosto de saber que as pessoas são entidades possuídas. Realmente, extremamente humanista.

"Puede cometerse de tres maneras; es a saber: entre un casado y una soltera; entre una casada y un soltero, y entre dos casados. En este último caso se duplica el adulterio, por haberlo de parte de entrambos y así debe uno y otro manifestarse en la Confesión. S. Tom. ubi sup. artic. 8. "

Estamos safos, quase todos os poliamorosos que conheço não são casados, embora os haja!

Mais à frente tive esperança, que tudo se tornasse mais razoável:

"P. ¿Comete adulterio la mujer, cuando su marido consiente tenga acceso con otro? R. Que el decir no lo comete, está condenado por Inocencio XI en la proposición 50 que decía: Copula cum conjugata, consentiente marito, non est adulterium: adeoque sufficit in confessione dicere, se esse fornicatum. "

mas não, há um contra argumento para que se sintam legitimados a meter o nariz onde não devem:

"Con justísima causa se condenó esta proposición; porque el marido sólo tiene potestad [458] sobre el cuerpo de su consorte para los usos lícitos, mas no para los ilícitos. "

Uau, alguém pode dispor do meu corpo desde que alguém decida que é licito.


e cá está a defesa da coutada do macho, latino ou não:

"Es más grave en el marido que en la mujer el adulterio? R. Que aunque en ambos sea igual su malicia con relación ad bonum fidei y Sacramenti, por ser en los dos igual la obligación, es no obstante, más grave en la mujer que en el hombre relative a los daños que causa; porque la adúltera hace la prole incierta; introduce al extraño a la herencia con los propios; infama gravemente al marido, hijos y demás familia, y causa contiendas, riñas, y otros escándalos. "

será que se os homens parissem seria diferente então?

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8.12.2007

poliamor em 5 linhas


Respondendo à pergunta, o que é realmente poliamor em cinco linhas, sem dar n+1 links de resposta ou vários parágrafos, gostava de dizer (grosseiramente) que é a substituição do primado da monogamia pelo da sinceridade numa relação ou várias, sendo relação qualquer tipo de interacção mais ou menos emocional entre pessoas.

Por outras palavras, não é ter vontade de "ter relações com mais do que uma pessoa", é ser capaz de se ser honesta acerca disso com a(s) pessoa(s) com quem se tem ligações. Por outras palavras ainda, é ter estômago e não só aguentar que essas mesmas relações conheçam e se envolvam com outras pessoas, mas inclusivamente ser-se capaz de se sentir alegria e cumplicidade por causa disso (escreverei sobre "compersion" assim que a silly season passar e eu me sentir um pouco mais recuperada das tempestades emocionais poliamorosas que me desabaram em cima).



https://www.blogger.com/comment.g?blogID=10373581&postID=4823192865691204100


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8.06.2007

Filme: Women in Love



Este filme não pode falhar porque tem tudo. Ou pode falhar simplesmente porque tenta ter tudo.




Começando pelo fim, este filme começou a ser rodado em São Francisco no princípio da década de 80, a partir de centenas de horas de entrevistas, filmes caseiros, etc e tenta capturar toda uma Renascença Lésbica que começou a tomar forma mesmo no meio do trauma/epidemia da SIDA. Falamos aqui de todas as mulheres queer que corajosamente redefiniram e galvanizaram o feminismo e a sexualidade, e foram pioneiras de todo um novo conjunto de valores, sex-positive e libertários, que só recentemente começaram a chegar até nós (em Portugal). A titulo de exemplo, foi esta corrente que tomou como bandeira a pornografia feita para um publico lésbico com valores lésbicos/feministas, as workshops de masturbação como statement sex-positive, os sexclubs para mulheres ou a participação em marchas GLBT em troncos deliciosa e provocadoramente nús.


O filme retrata a vida de um grupo de mulheres e as suas aventuras do dia a dia com a não monogamia, o erotismo, amizade, e a sua (noção de) família. Foca os já aqui habituais problemas ou desafios com pontos como a monogamia (e pessoas monogâmicas), a duração daquela coisa chamada amor, o poliamor e a evolução das amizades.


Finalmente, transcende o nível da aventura pessoal das protagonistas, acabando por fazer um bom retrato duma época e duma "cena" lésbica que insiste em não ficar quieta com soluções antigas, e procura redefinir-se a cada passo.

E para quem acha que isto é tudo muito sério, há toneladas de imagens bastante sumarentas, picantes e lesbian sex galore, ou será que devo dizer sexo lésbico ás molhadas .. (isto foi um truque sujo para enganar o algoritmo do google search e aumentar os hits!) ????

vejam o filme e digam-me de vossa justiça.

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