Prometi há tempos um resumo mais detalhado da workshop sobre poliamor que demos em Viena na Ladyfest, em Maio.
O tema escolhido foi "Uma, Nenhuma, Muitas". Como dito num post anterior, foi recomendado, de acordo com a filosofia da Ladyfest, que a linguagem utilisada fosse o mais possível gender-neutral.
Tinhamos duas horas á nossa disposicao, e optámos por ter um rascunho de estrutura, com espaco para muita improvisacao e flexibilidade, estimando deixar a última hora ou hora e meia para discussoes acerca de temas que a própria audiência propusesse. Afinal, nao sabiamos o tipo de público que iamos ter, mas tinhamos já a conviccao, de outras workshops a que assistimos durante a ladyfest, que já teriam todos pelo menos ouvir falar de poliamor, que conhecessem os termos e os temas pertinentes e eventualmente já tivessem alguma experiência que se pudesse dizer poliamorosa.
(Na verdade a "propaganda de corredor" já tinha sido tal que no dia anterior tinha havido uma workshop sobre "pornografia feministicamente correcta", com gente a sair pelas costuras onde toda a gente já falava da workshop sobre poliamor. Idem para a queereruption (sex party) em que já se tinha tornado tema recorrente no meio das bujecas.)
Optámos por usar a apresentacao como um icebreaker e um brainstorm em si para temas de discussao. Nós (moderadoras) apresentámo-nos, falámos um pouco das nossas experiencias activistas (quem nao souber e quiser saber pergunte-me), descrevemos como a nível pessoal aterrámos em situacoes poliamorosas, e complementarmente como aterrámos a fazer workshops e poliactivismo. Seguidamente acertámos a lingua em que a workshop deveria ser conduzida (se em inglês ou em alemao) e escolheram-se voluntários para fazer traducao simultanea para inglês caso alguém aparecesse mais tarde que nao soubesse alemao. Por fim, convidámos a audiência a apresentar-se, caso o quisesse, eventualmente seguindo o modelo sugerido por nós.
Como estavam mais de 22 pessoas na sala (e um cao), a apresentacao em si demorou quase uma hora. Igualmente devido ao numero (elevado) de pessoas, nao foi possivel discutir qualquer assunto de modo muito profundo. Todas as pessoas na audiencia tinham realmente já mais que ouvido falar de poliamor, mas todas tinham níveis de experiência e aceitacao em relacao ao conceito bastante diferentes. Em termos socioculturais pode se dizer que a maior parte da audiencia provinha duma esquerda menos burguesa e mais radical, com expriencias de viver em comunas ou prédios abandonados etc, entre os 18 e os 35 anos. Nao se sobrepondo a estes, mas tambem muito maioritaria, toda a fatia queer, GLBT e todos os gender queer. Faz me bem de vez em quando estar em ambientes onde eu de repente me torno mainstream e nao tenho de explicar a minoria que sou. ficámos com a ideia que podiam ter vindo muito mais pessoas, mas havia ao mesmo tempo uma workshop que obrigou as pessoas a escolher.
Como explicado no parágrafo anterior, o grupo era muito grande e o facto de pessoas estarem continuamente a chegar ou a sair (grrr) tornou impossivel a divisao em dois ou mais grupos. Na última hora tivemos também de providenciar traducao simultanea para inglês, o que tornou a discussao mais demorada. Sendo assim, foram muitos os temas tocados, mas pouca a profundidade. Fica para mim propria a nota que tenho de ser mais agressiva a moderar "o gajo que tem sempre que botar faladura" e que nao deixa mais ninguém falar, porque acaba por tornar a discussao centrada nele e nao no que o grupo propôs, raios o partam, que tem de haver sempre um cromo destes! Os temas tocados variaram entre:
- O que é uma relacao? sabemos que no mundo nao-poly ha as caixinhas amizade, amor, sexo that is it. E para nós? onde comeca, se é que se pode dizer que comeca, uma relacao?
- A diferenca entre o ser e o fazer: sou monogâmica por ter uma namorada? As pessoas que me vêem vao achar que sim, mas eu sei que nao... por outras palavras a minha percepcao e a dos outros.
- Poliamor: que nome de MERDA, quem o inventou devia estar bêbada ! Desinforma e traz os clichées todos atrás. poliamor nao é "muitas e boas". poliamor é aguentar e até gostar quando os "nossos" outros estao como outros.
- A pressao social existente nos nossos dias para se TER (já nem digo ESTAR) uma relacao.
- Ciume (inevitável), desconstruir o ciúme para o controlar (o ciume nao desaparece das relacoes poliamorosas por milagre, teem é outros mecanismos que facilitam o seu controle e neutralisacao)
- Sentimento de posse, influência do capitalismo e "starvation economy" nas relacoes monogâmicas.
- Tempo de qualidade vs tempo automaticamente passado com outra pessoa, por hábito.
- Responsabilidade.
- Fronteiras: gestao de tempo e de espacos
Discutimos para além do tempo e até a organisacao precisar do espaco (e se acabar o café) durante quase mais uma hora. Fechámos agradecendo tudo o que aprendemos com a contribuicao generosa daquela audiência e pedindo que comentassem a workshop (para aprendermos para as próximas). Desconfio que foi mais fixe e mais rico para mim do que para eles.
Lembrete para mesas futuras: divisao em grupos, moderacao forte e um tema fixo. É preferível discutir menos temas e com mais profundidade, e que todas as pessoas possam falar e fazer perguntas.
As próximas workshops serao aqui anunciadas.
O tema escolhido foi "Uma, Nenhuma, Muitas". Como dito num post anterior, foi recomendado, de acordo com a filosofia da Ladyfest, que a linguagem utilisada fosse o mais possível gender-neutral.
Tinhamos duas horas á nossa disposicao, e optámos por ter um rascunho de estrutura, com espaco para muita improvisacao e flexibilidade, estimando deixar a última hora ou hora e meia para discussoes acerca de temas que a própria audiência propusesse. Afinal, nao sabiamos o tipo de público que iamos ter, mas tinhamos já a conviccao, de outras workshops a que assistimos durante a ladyfest, que já teriam todos pelo menos ouvir falar de poliamor, que conhecessem os termos e os temas pertinentes e eventualmente já tivessem alguma experiência que se pudesse dizer poliamorosa.
(Na verdade a "propaganda de corredor" já tinha sido tal que no dia anterior tinha havido uma workshop sobre "pornografia feministicamente correcta", com gente a sair pelas costuras onde toda a gente já falava da workshop sobre poliamor. Idem para a queereruption (sex party) em que já se tinha tornado tema recorrente no meio das bujecas.)
Optámos por usar a apresentacao como um icebreaker e um brainstorm em si para temas de discussao. Nós (moderadoras) apresentámo-nos, falámos um pouco das nossas experiencias activistas (quem nao souber e quiser saber pergunte-me), descrevemos como a nível pessoal aterrámos em situacoes poliamorosas, e complementarmente como aterrámos a fazer workshops e poliactivismo. Seguidamente acertámos a lingua em que a workshop deveria ser conduzida (se em inglês ou em alemao) e escolheram-se voluntários para fazer traducao simultanea para inglês caso alguém aparecesse mais tarde que nao soubesse alemao. Por fim, convidámos a audiência a apresentar-se, caso o quisesse, eventualmente seguindo o modelo sugerido por nós.
Como estavam mais de 22 pessoas na sala (e um cao), a apresentacao em si demorou quase uma hora. Igualmente devido ao numero (elevado) de pessoas, nao foi possivel discutir qualquer assunto de modo muito profundo. Todas as pessoas na audiencia tinham realmente já mais que ouvido falar de poliamor, mas todas tinham níveis de experiência e aceitacao em relacao ao conceito bastante diferentes. Em termos socioculturais pode se dizer que a maior parte da audiencia provinha duma esquerda menos burguesa e mais radical, com expriencias de viver em comunas ou prédios abandonados etc, entre os 18 e os 35 anos. Nao se sobrepondo a estes, mas tambem muito maioritaria, toda a fatia queer, GLBT e todos os gender queer. Faz me bem de vez em quando estar em ambientes onde eu de repente me torno mainstream e nao tenho de explicar a minoria que sou. ficámos com a ideia que podiam ter vindo muito mais pessoas, mas havia ao mesmo tempo uma workshop que obrigou as pessoas a escolher.
Como explicado no parágrafo anterior, o grupo era muito grande e o facto de pessoas estarem continuamente a chegar ou a sair (grrr) tornou impossivel a divisao em dois ou mais grupos. Na última hora tivemos também de providenciar traducao simultanea para inglês, o que tornou a discussao mais demorada. Sendo assim, foram muitos os temas tocados, mas pouca a profundidade. Fica para mim propria a nota que tenho de ser mais agressiva a moderar "o gajo que tem sempre que botar faladura" e que nao deixa mais ninguém falar, porque acaba por tornar a discussao centrada nele e nao no que o grupo propôs, raios o partam, que tem de haver sempre um cromo destes! Os temas tocados variaram entre:
- O que é uma relacao? sabemos que no mundo nao-poly ha as caixinhas amizade, amor, sexo that is it. E para nós? onde comeca, se é que se pode dizer que comeca, uma relacao?
- A diferenca entre o ser e o fazer: sou monogâmica por ter uma namorada? As pessoas que me vêem vao achar que sim, mas eu sei que nao... por outras palavras a minha percepcao e a dos outros.
- Poliamor: que nome de MERDA, quem o inventou devia estar bêbada ! Desinforma e traz os clichées todos atrás. poliamor nao é "muitas e boas". poliamor é aguentar e até gostar quando os "nossos" outros estao como outros.
- A pressao social existente nos nossos dias para se TER (já nem digo ESTAR) uma relacao.
- Ciume (inevitável), desconstruir o ciúme para o controlar (o ciume nao desaparece das relacoes poliamorosas por milagre, teem é outros mecanismos que facilitam o seu controle e neutralisacao)
- Sentimento de posse, influência do capitalismo e "starvation economy" nas relacoes monogâmicas.
- Tempo de qualidade vs tempo automaticamente passado com outra pessoa, por hábito.
- Responsabilidade.
- Fronteiras: gestao de tempo e de espacos
Discutimos para além do tempo e até a organisacao precisar do espaco (e se acabar o café) durante quase mais uma hora. Fechámos agradecendo tudo o que aprendemos com a contribuicao generosa daquela audiência e pedindo que comentassem a workshop (para aprendermos para as próximas). Desconfio que foi mais fixe e mais rico para mim do que para eles.
Lembrete para mesas futuras: divisao em grupos, moderacao forte e um tema fixo. É preferível discutir menos temas e com mais profundidade, e que todas as pessoas possam falar e fazer perguntas.
As próximas workshops serao aqui anunciadas.
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