9.21.2009

Os que não querem ser relações primarias

Nalguns foruns da net fala se por vezes de unicórnios, animais míticos difíceis de encontrar, e que consoante a cultura local do fórum em que estamos, quer dizer o apêndice relacional para um casal. Nalguns destes for a, usa-se o termo para uma mulher bissexual que encontra o lugar “natural” no meio de um casal tradicional. Prefiro cingir me ao primeiro caso, com uma definição mais geral e em que uma relação não passa necessariamente pelo sexo.


The term unicorn started as a fun way for couples to make light of the fact that it felt nigh impossible to find a hot bisexual poly woman that was available to form a triad with them...that they were like mythical creatures.


Independentemente de discutir se é ok oferecer uma relação em que o papel está pré definido (ou pior, a relação É o papel) e com poucas hipóteses de mudar, dinamicamente ou não, gostava de lançar a minha dose semanal de dados aleatórios e opiniões.


Quando se le isto parece haver uma hierarquia subjacente. Sim. Está. Não, não está. Depende do que se quer e do que se negoceia. Quem estiver interessado pode procurar as grandes discussões sobre como não se deve tratar um unicórnio e sobre se é ou não correcto procurar um.


O que posso dizer de minha justiça, é que aterrar no meio de uma relação já existente pode ser bastante complicado mas também pode ser estupidamente simples e maravilhoso, e que todas as generalizações a este respeito pertencem à categoria conversa de café sem fundamento. Posso também acrescentar que mesmo no tal caso em que poderá haver a tal hierarquia, implícita ou explicita, o espaço e a liberdade que isso oferecer pode ser exactamente o que uma pessoa precisa.


Deixo vos um artigo, infelizmente bastante superficial (significa que vamos ter de ser nós a escrever em profundidade acerca disto), acerca do porque é que algumas pessoas podem preferir ser um secundário.


http://www.villagevoice.com/people/0612,taormino,72575,24.html

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9.14.2009

Mostra e Conta II: Monogamia x Poliamor, 0-0

Continuando o "mostra e conta", vamos pegar na pergunta "o que achas da Monogamia". Vou pegar apenas num aspecto particular e não elaborar longamente sobre o pano para mangas, colarinhos e tendas multi-familiares que isto pode dar.

A primeira coisa que me veio à cabeça ao desenterrar alguns textos que li ou mesmo que escrevi (mea culpa, sim, minha grande culpa) sobre o assunto, é que muitas vezes são textos duma injustiça, ingenuidade e falta de rigor incríveis, pois comparam muitas vezes, digamos assim, os falhanços práticos da monogamia, ou aquilo que muita gente chama de monogamia e nao é, com uma versão idealizada e infalível do poliamor, ou, por outras palavras, o que o poliamor ideal e teoricamente deveria ser.

Por outras palavras, é como se eu comparasse a Historia do Cristianismo com as suas Cruzadas, os massacres, a Inquisição, o colaboracionismo, com a definição e objectivos do Budismo (e varresse para debaixo do tapete as guerras em nome do Budismo, e igualmente as definições e objectivos do Cristianismo ocidental). Infelizmente há pessoas, mesmo profissionais da escrita e da análise politica e histórica que insistem nisto.

Para mim a monogamia é apenas mais uma solução possível para a quadratura do amor. Não digo mal nem bem da monogamia. Acho que funciona para muita gente (falo de monogamia ppd e não de monogamia com traição, e, digo sem ironia, mesmo esta funciona curiosamente, para muita gente). Acho que podia funcionar para mim, mas sou mais feliz e ocupada vivendo poly. Na verdade é possível também viver em monogamia e em poliamor (Deixo esta frase como trabalho de casa) Eu defendo, pessoalmente e como activista, o reconhecimento que há mais formas de amar do que a "oficial", e que o poliamor, na sua variedade, merece respeito e é legitimo, mas que talvez não funcione para toda a gente, e não, não quero acabar com a monogamia. O que eu combato é a Monogamia como único modelo, a monogamia "de Estado", ou a monogamia como o único modelo que merece respeito.

Uma palavra acerca do casamento, uniões de facto e monogamia de Estado... não é justo que numa sociedade que se diz baseada no individuo livre (Embora as constituições europeias tenham mudado discreta mas peremtóriamente durante os últimos 80 anos no sentido da “a família ser a base do Estado”), dois indivíduos casados tenham mais privilégios do que os não casados. Refiro me ao poder testamentário e ao poder de procuração em caso de doença ou semelhante. Entendo que isso deveria ser regulado por cada individuo por si só e não pelo estado e suas leis. Não percebo sequer qual a lógica de ser, digamos assim, o meu cônjuge-parceiro-amor a tomar uma serie de decisões quando eu não as posso tomar. Consigo pensar numa serie de pessoas que eu preferia por a tomar esse tipo de decisões (o desligar da maquina, a gestão dos meus bens, a amputação da perna, que advogado chamar se eu estiver na cadeia, etc) que não são minhas relações e sem que isso queira dizer que gosto menos das minhas relações. A questão do apoio à parentalidade, ou seja, a questão dos filhos, pode perfeitamente ser legislada fora do contexto do casamento e não em ligação automática. E embora defenda o alargamento do casamento aos pares do mesmo género (e já preocupada com a pergunta de quem é que define género, pedra no sapato avant la lettre), na verdade acho o casamento injusto contra não só todos os que vivem outros tipos de relações para alem do par paradigmático, mas todos os celibatários, voluntários ou não. Na verdade, a única coisa justa a fazer seria a abolição do casamento civil.

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9.07.2009

Lá fora: Os Verdes e Poliamor

Em Munique há varias stammtische (encontros regulares) poly. Um dos quais, é um grupo grande de pessoas que se interessam por poly, não o vivendo necessariamente, que se encontra uma vez por mês para conviver principalmente mas também para por vezes se falar de coisas sérias e ás vezes até mesmo poly.

Os políticos estão claramente atentos, e procuram, na Alemanha como em Portugal, gerir e apropriar-se de qualquer grupo de interesse que possa significar massa negocial ou de lobby ou talvez simplesmente tornar o mundo melhor através do adoptar da bandeira de grupos pequenos, minoritários, mas significativos. Decidam qual das opções em função do nível actual da vossa bílis.

Recentemente apareceu num dos encontros um pequeno grupo da Grüne Freiheit (a Liberdade Verde, uma facção libertária dos Verdes). Depois desse encontro, recebemos através da
mailing list que organiza os encontros, um comunicado deste grupo. Tencionam em fins de Setembro, depois das eleições para o Parlamento Federal, trazer juntamente com outros grupos dos Verdes, ao Parlamento da Baviera (ou caso não seja possível, como discussão interna e pública dentro dos Verdes), uma discussão sobre o tema Poliamor. A ideia é preparar novas frentes de lupa para os Verdes lançarem a discussão acerca de como, durante a batalha pela igualdade de acesso ao casamento pelos pares do mesmo género, eles acabaram também por cair na caixinha da relação modelo entre duas pessoas.

Para recuperar desta falha, querem lançar o tema Poliamor e discutir que conquistas e que formas de luta se deveriam por na ordem dos trabalhos. Em concreto, querem discutir o privilégio implícito que há em qualquer casamento (antidote dixit: Boa!), e se faz sentido trazer esse privilegio para relações não-monogâmicas, que podem ser reguladas (antidote dixit: Tiro no pé, parem!!!!). E como alem dos juristas e advogados que vão estar na discussão, convém que haja alguém que saiba daquilo que fala, pedem a colaboração de pessoas do grupo que queiram estar presente.

A coisa triste: o grupo é constituído maioritariamente por poly-wanna-be´s e ninguém se chegou à frente. Mas aguardo ansiosamente pelo fim de Setembro para assistir ao desenrolar disto.

E que farão os restantes Verdes europeus?

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