1.01.2015

facebook: uma reflexão acerca da suspensão de contas de ativistas LGBT e não só

Abaixo a cópia de um mail que mandei para várias mailing lists de ativismo LGBT e relacionados em Portugal:

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Carxs amigxs, colegxs e ativistas,

A minha conta de facebook, Ann Antidote, que uso/ei como pseudónimo para atividades artísticas e políticas foi suspensa na primeira semana de Dezembro pelo facebook por eu não usar o meu nome “verdadeiro”.


Não quero aqui discutir as políticas do facebook, em última instância a utilização de um pseudónimo é -sem discussão - uma violação dos Termos de Serviço e em que termos isso pode ou deve ou seria defensável é uma discussão separada que eu não quero começar aqui (e estou a tê-la em muitos outros lados).

Abaixo deste email, que quero manter mais ou menos curtinho (ou quase) e to the point, juntei alguns links e informações acerca desta questão e suas implicações. Estou também em contacto com várias pessoas ativistas – LGBT e nao só – afetadas e jornalistas e politicxs, uma vez que a informação encontrada na net, leia-se cuspida pelos agregadores de noticias, nao reflete a realidade e sugere que tudo está resolvido com um pedido de desculpas do facebook à comunidade LGBT. Não está. Contas continuam a ser suspensas e o facebook exige a apresentação de documentos oficiais para provar identidades.. Quem quiser saber mais pode ler os links abaixo e/ou pode-me contactar por PM.

O que quero trazer aqui são meia dúzia de pontos para refletir, acerca de como o usamos ou queremos usar, não apenas como pessoas privadas, mas como ativistas dentro de um contexto de grupos de trabalho. Nos últimos anos observei como as mailing lists – estas para as quais estou a escrever, e outras noutras línguas e noutros contextos – foram cada vez menos usadas (umas mais outras menos) e como algumas discussões começaram a tomar lugar quase exclusivamente via facebook. Houve grupos e coletivos que praticamente deixaram de ter qualquer outra expressão, e outros não existem de todo fora do facebook.
Outro aspecto preocupante é  a monitorização de conteúdos ou a impossibilidade de encriptar conteúdos, que para muitos de nós pode não ser problemática (na onda do “não tenho nada a esconder”: que acaba por ser uma expressao de privilégio), mas a partir do momento em que algunxs ativistas e/ou pessoas a eles ligadxs podem não ter papéis, licença de residência, privilégio de nacionalidade, ou mesmo uma ficha na policia não – pelas mais diversas razões - muito imaculada torna-se muito problemático (e independentemente de se concordar com estes ou aqueles métodos que colidam com as autoridades, é preciso reconhecer essa diversidade, essa diferença em privilégio – e essa fragilidade – dentro da comunidade activista e/ou LGBT).
Finalmente, todas as discussões em que participei, todos os comentários meus no facebook desapareceram, como se eu nunca tivesse existido nestes últimos 6 anos. Nao tenho maneira de documentar discussões e decisões em que participei, ou de rebater coisas – algumas com implicações políticas, coletivas ou mesmo financeiras – que tenham sido ou continuem a ser discutidas. É problemático para mim, e é problemático para o contexto em que outros responderam ou comentaram, ou para a  documentação e/ou visibilidade do trabalho deste ou aquele grupo de trabalho.

Os pontos que eu quero trazer são:

1) - faz definitivamente sentido usar o facebook como meio suplementar (Adicional) de informação, organização e mobilização. É uma ferramenta poderosa. Mas não pode ser o único meio, é necessário manter outros canais abertos. Isto é um apelo à disciplina individual e coletiva. Mantenham toda a gente no barco, não só os vossos amigos diretos.
2) - Ter cuidado com o que se partilha e como. Há informação que mesmo por email deveria ser encriptada. Facebook, Whatsup e Instagram não são seguros. Os yahoogroups que foram usados também têm alguns buracos mas estão anos-luz do que os primeiros fazem sistematicamente ou podem fazer.
3) - Dizer que usar o facebook como assembleia para tomar decisões é má ideia é o corolário de (1) e deveria ser desnecessário, mas digo-o mesmo assim.
4) – Pensar na acessibilidade como privilegio e como podemos usar a tecnologia com muitas das suas vantagens sem criar com isso desvantagem ou exclusão daqueles que não têm acesso a ela (ou seja, como não reproduzir estruturas de privilégio que como ativistas LGBT supostamente tentamos combater).
5) -  Há imensas coisas fixes e úteis que podemos fazer como ativistas sentados ao PC: divulgar, denunciar, escrever a governantes, a jornalistas, desencadear acões legais. Pôr likes é divertido e social mas não é uma delas.

A um nível pessoal: estou a pensar se quero usar de todo o facebook, mesmo com todas estas precauções e mesmo que me devolvam acesso à minha conta (neste momento nem consigo sequer apagar os meus dados). Não confio neles, e eles deram-me razão para não confiar.  Dar-lhes o meu ID digitalizado está fora de questão, não tanto por mim, mas por uma questão de princípio e pelo manancial de informação agregada (acerca de pessoas com quem trabalho em situações precárias, ou vários projetos) que disponibiliza a uma série de pessoas e organismos que eu nem sei quem são (As pessoas a quem o facebook vende a informação agregada).

Feel free to forward this email a quem dele puder precisar.


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Uma compilação de informação acerca deste tema e outros relacionados..

Drag Stars, Facebook's "Fake Name" Controversy and the Rise of Ello
http://www.papermag.com/2014/12/facebook_ello_sister_roma.php

Chris Cox: I want to apologize to the affected community of drag queens...
https://www.facebook.com/chris.cox/posts/10101301777354543

Facebook's 'Real Name' Policy Can Cause Real-World Harm for the LGBTQ Community https://www.eff.org/deeplinks/2014/09/facebooks-real-name-policy-can-cause-real-world-harm-lgbtq-community


Drag Queens aren't the only people affected by facebooks' real name policy
http://www.businessinsider.com/drag-queens-arent-the-only-people-affected-by-facebooks-real-name-policy-2014-9

Facebook won't back down from requiring drag queens to use their real names
http://www.businessinsider.com/facebook-wont-back-down-from-requiring-drag-queens-to-use-real-names-2014-9#ixzz3NBuJaEx7

Status de 7.12.2014:

Zuckerberg reiterates: You have to use your real name on Facebook http://venturebeat.com/2014/12/11/zuckerberg-reiterates-you-have-to-use-your-real-name-on-facebook/ 

2014: The Year Facebook Started To Figure Out How It Hurts People http://sfist.com/2014/12/29/2014_the_year_facebook_started_to_f.php

 The single vigilante behind Facebook's real name crackdown http://www.dailydot.com/technology/realnamepolice-facebook-real-names-policy/


Real name police
http://realnamepolice.tumblr.com/

Ello embraces facebook users irked by real name demands
http://www.dailydot.com/technology/ello-facebook-real-names-policy/

Private email monitoring at facebook
http://www.computerweekly.com/news/2240211943/Facebook-faces-lawsuit-over-monitoring-private-messages

Police Can Create Fake Instagram Accounts To Investigate Suspects
http://techcrunch.com/2014/12/24/police-can-create-fake-instagram-accounts-to-investigate-suspects/

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