Fitas sex-positive, by Ann Antidote e Daniel Cardoso.
Um artigo escrito a pensar em publicacao integral, acerca de filmes DIY, guerrilla film making, festivais de cinema depravados, e outras coisas.
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A
ideia por detrás de se ser sex
positive
não é a de se converter todo o mundo num imenso bacanal em que
pacatos cidadãos se magoem com risco de vida (e da dignidade) ao
escorregar no lubrificante. Tal como o ativismo LGBT não pretende
converter o globo numa legião tebana. A ideia - infelizmente pouco
ventilada - por trás de uma postura sex positive, entre outras, é
que todos os modos de vida conscientes e consensuais merecem
respeito. Já dizia a avó: "não tenho nada a ver com o que as
pessoas fazem umas com as outras lá na casa delas". E é assim
mesmo.
Muitos
perguntam o porquê de ser agora, este crescimento do sex
positive,
da pós-pornografia, da pornografia feminista - de todos estes temas
que, antes, nem atrás de portas se sussurravam. Há várias razões,
mas uma delas é muito simples: uma série de coisas deixaram de ser
proibidas. Há uns anos ainda se podia ir para a cadeia por foder com
a pessoa do género errado, ou no sítio errado, ou simplesmente por
mostrar demasiado exuberantemente uma identidade ou uma preferência.
Coisas como a homossexualidade ou o BDSM foram até há relativamente
pouco tempo (ou ainda não deixaram de ser, em países mesmo aqui
perto) fortemente criminalizados e penalizados (apesar de
reconhecermos que estão ainda em voga práticas mais subtis e
indirectas de criminalização e penalização).
Claro
que o crescimento da internet, e a possibilidade de cada pessoa
escolher, até certo ponto, com que produtos culturais desejam
interagir, em vez de ficarem sujeitos aos distribuidores de cinema da
cidade onde vivem, mudou hábitos e criou circuitos alternativos de
criação e distribuição de filmes. Por sua vez, esta mudança de
hábitos criou espaços e mentalidades recetivas a produções DIY
(faça-você-mesmo) e sem orçamentos que tornam o fazer de filmes (e
a sua distribuição e reprodução) acessíveis a qualquer pessoa
com um computador e uma câmara básica (tendência essa que, de
resto, teve a sua pré-história com a tecnologia VHS e as câmaras
pessoais).
Com
isto explodiram nos últimos anos os ciclos de cinema especializados,
e também os ciclos de cinema de temática sex positive e/ou
sexualidades identidades não normativas. Temos em Berlim o PFF (Porn
Film Festival), temos o TranScreen
em Amesterdão (ainda a aceitar submissões!), temos o Fetisch
Film Festival (FFF) em Kiel, temos o San
Francisco Trans Film Festival, o Sex
Worker Film Fest em Hamburgo, os Feminist
Porn Awards no Canadá ou mesmo o Sydney
Underground Film Festival na Austrália - só para citar uns
quantos.
Passa-nos
ao lado? Não: os mesmos mecanismos que mudaram a criação e
distribuição de filmes, tornaram todo este circuito uma pequena
aldeia global. Berlim e Amesterdão estão ali mesmo ao lado, Kiel ao
virar da esquina, a Austrália um pouco mais longe... E se essas
distâncias podem criar uma sensação de deslocamento para quem não
está a viver nos sítios em questão, a mediação tecnológica vem
dar a certeza que não é preciso "ir para fora", para se
conseguir fazer bom trabalho e ser-se reconhecido por isso.
Tudo
isto para dizer que também há a presença de pessoas portuguesas
nos festivais estrangeiros, em várias categorias. Nós próprixs
estaremos lá. A Ann Antidote tem um workshop no PFF de Berlim - onde Daniel Cardoso vai ter a estreia mundial da sua curta
"Herm::aphrodite"
e que arranca no fim de Outubro - e vai ver duas curtas suas serem
exibidas no FFF de Kiel: "Vacations
in SlutMeadow" e "Remember
Gay Love Story", já este mês.
Sabem
o que faz lá falta, porém? É que vocês, leitoras e leitores,
peguem nas máquinas fotográficas, de filmar, nas webcams,
nos brinquedos sexuais, nas amigas e amigos (e/ou em vocês mesmas e
mesmos) e arrisquem, experimentem, façam. Mostrem ao mundo que somos
diversas pessoas a viver num mundo diverso.
Ann
Antidote - http://strangesavagelives.net.tc/
Daniel
Cardoso – http://danielscardoso.net/
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