1.31.2008

Artigo sobre poliamor no "La Vanguardia"


Mais um artigo cheio de erros científicos, má investigacao jornalistica e carregadinho de mononormatividade. A cereja no topo do bolo para mim é a jornalista referir-se ás pessoas poliamorosas como "eles" partindo provavelmente do princípio que "eles" sao seres tao alienados, provavelmente tao depravados, que nem sequer estao perto da probabilidade de pertencerem ao público leitor daquele jornal.

Está carregadinho de condescendência e tentativas de demonstrar a falência teoricamente inerente ao poliamor..

http://www.forosx.com/phpbb2/viewtopic_print.php?t=8866&start=0

Amigos leitores... se querem saber o que poliamor nao é, ou raramente é, ou nao necessariamente é, leiam esta obra prima. Pérolas selecionadas:

"Son personas muy seguras que tienen muy claro que las relaciones esporádicas con otra persona son sólo una diversión." ... Claro, nao existem pessoas poliamorosas que sejam inseguras.. somos todos uns cínicos autoconfiantes, vivendo em gigantescos barrís de Diógenes, a levar virgens inocentes ao castigoa cada passo... e claro que toda a gente sabe se uma relacao é exporádica ou nao quando a comeca... e tem de ser obrigatoriamente uma diversao...


"Para Norbert Bilbeny, catedrático de Ética, se trata de relaciones muy complicadas, minoritarias y bastante inverosímiles". .... Este senhor devia sair mais á noite, conhecer mais gente do que a que orbita á sua volta, em vez de dizer que é inverosímel simplesmente aquilo que nao conhece.. Aqui, a nossa heroica jornalista foi buscar um especialista instantâneo para justificar qualquer coisa que lhe apeteceu defender...

'“Este tipo de relación abierta lleva a una cierta inestabilidad”, dice Bilbeny' .... Poliamor NAO É necessariamente uma relacao aberta, minha senhora!! Geralmente e inclusivamente, relacao aberta colide de facto com o conceito de poliamor!

E claro, demora pouquissimos paragrafos a chegar ao ponto óbvio: o sexo. Porque relacoes implicam na cabeca de certas pessoas (infelizmente a maioria) o sexo, e essas mesmas pessoas imaginam o sexo como uma "obrigacao" dentro da relacao, ou um indicador de qualidade... tipo "o meu corpo tem de pertencer a quem amo, para que faca o que lhe aprouver"... "Seguramente más de uno se estará preguntando cómo se organizan y con quién duermen los polienamorados." sim, estao-se a perguntar, sem dúvida, provavelmente com a baba a escorrer dos queixos e olhos arregalados como ovos estrelados...

Esta é brilhante: "Evidentemente los polis no son celosos"... Bem, ainda bem que esta senhora me assegura que isto que ás vezes me passa pela cabeca nao sao ciúmes, porque se nao ia-me sentir muito mal.. Amigos! O poliamor nao salva dos ciúmes! Pode ajudar a desconstruir, a analisar, a relativisar.. mas nao salva ninguém dos ciúmes!!

"El esquema que acostumbran a reproducir estos individuos es el siguiente: existe una relación primaria" ... Claro, nem lhes passa pela cabeca os trios, as comunas, as familias estendidas, as amizades coloridas, as n-relacoes primárias... e para além da dicotomia homem-mulher.. nao, isso é demasiado complicado!!... e se este é o esquema mais habitual, entao eu estou na companhia de pessoas muito pouco habituais!!!

Finalmente: “Si los polienamorados acaban convirtiéndose en familia con hijos, se corre el riesgo de no poder garantizar una estabilidad al niño" ...Realmente, na nossa sociedade em que os casados já sao uma minoria, e oas criancas teem geralmente 3 ou 4 figuras parentais (o que nao é mau nem bom), a estabilidade está super ameacada pelo poliamor!! Sinceramente nao vejo diferenca entre os meus filhos virem a brincar com e a ser educados por mim e as minhas namoradas, ou a minha avó que foi educada pela mae dela e uma rede intricada de tias e vizinhas como era regra antanho.


No fundo o que escrevi nao é uma rant contra os que sao contra o poliamor. é uma rant contra mau jornalismo, e pouco sério ainda por cima.



alguém mais como eu?


(onde estao os sais ENO?)



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1.28.2008

Queeruption XI, Roma, Itália


Interessante á vários niveis. Alem de todas as workshops e acontecimentos onde os tons dominantes sao os temas GLBT duma perspectiva mais fresquinha e menos poeirenta e a crítica á monogamia, haverá á já conhecida dos meus (poucos) leitores Queereruption sexparty. (as regras da casa da Queeruption sexparty o ano passado em Viena aqui)


Announcing Queeruption11:
Roma, Italy, 1-7 July 2008


Dear All, we are very pleased to announce the official dates for the next Queeruption.

Queeruption 11 will be held in Roma this summer, 1-7 July 2008. The collective in Roma is already working hard to ensure seven amazing days of queer radical culture, queer-politics, antiracism, zines, workshops, cinema, sexual health, cooking, sex spaces, art, eco-queer, music, human rights, theatre, queer cabaret, beach time, parties and more. Queeruption11 will provide an alternative political, queer-anarchist, non hierarchic and a creative environment; queers of all sexualities are invited to gather together to this free event, plan your trip, get a sleeping bag and join us ! you are welcome! Italy right now faces some contradictory moments , where even a light version of civil partnership lies "within a fog", homo-trans-phobia is normalised and the gay associations are covered with cob webs...not to mention the vatican... but there is a transgender MP sitting on the house of parliament... a sign of hope? As you can all see there is plenty of room to discuss, promote diversity, encourage solidarity, share opinions and we are sure Queeruption11 will happen at the right time and place to shake some asses too ! Rome has a rich history of occupied buildings, D.I.Y activism, autonomous social centres, antifascist culture; so this can be a brilliant opportunity to diversify, build up confidence and momentum within Rome's already growing queer scene.The festival is a D.I.Y event and it can self sustain but it needs your participation, support and sharing; to create a radical alternative to the commercial "gay scene".So get involved ! There will be a pre-program to help us organize and make the most of every day so please contribute with art-material, performances, & workshops . Email us to book your space! Queeruption 11 is a self-funded festival, there will be some incurring costs for it to happen, although some benefits will be scheduled in Europe and Italy, to help alleviate the costs. All your assistance regarding the funding of Queeruption 11 is most welcome. Organise a benefits perhaps in your cities! Any feedback, comments and ideas are much appreciated. Here are some of the ways by which to make contact with the Q11 collective in Roma:


Web tools:





More details and up-dates to come. Please forward this message to your queer friends and if you have time, add translations to it. We are honestly thrilled and we are waiting for many of you. See you all this summer !


Queeruption Roma

1.26.2008

A monogamia maça-me à loucura





(obrigada á NT pela dica)

"O amor e o casal não me tranquilizam. " A frase surge numa nada tímida entrevista, concedida à Madame Figaro (suplemento de fim-de-semana do jornal francês Le Figaro) aquando do lançamento do disco "No promises", no início de 2007.


Não, Carla Bruni não parece dada a fazer grandes promessas nem, tão-pouco, a crer nelas. "Sou fiel... A mim mesma", confessa, com uma gargalhada. "A monogamia maça-me à loucura, mesmo se o meu desejo e o meu tempo podem estar ligados a uma pessoa e não nego o carácter maravilhoso do aprofundar da intimidade. Sou monógama de tempos a tempos, mas prefiro a poligamia e a poliandria.


"Não é todos os dias que alguém diz uma coisas destas, assim, sem pestanejar, sem negar a seguir nem pôr um processo ao jornalista a quem falou. Sobretudo quando, como era o caso à época, esse alguém vivia com outro alguém - Raphaël Enthoven, o pai do seu filho Aurelian, que fez em 2007 seis anos - e mesmo assim não se inibia de afirmar: "O amor dura muito tempo, mas o desejo ardente, duas a três semanas. Depois disso, pode sempre renascer das suas cinzas mas, de qualquer modo, quando o desejo está satisfeito, transforma-se. Não procuro muito a estabilidade. Nunca me sinto em casal, embora tenha um amante que amo e que vive comigo. É o meu lado rapaz. Como os homens, sei muito bem compartimentar as coisas. Sei muito bem fazer isso e com uma vantagem: a minha precisão feminina." A entrevista diz que ela ri aqui, de novo, para concluir: "Nunca me queixo! Sou mesmo assim completamente mulher no que respeita a certos sentimentos supostamente femininos que me invadem às vezes: a responsabilidade, a culpa, o remorso. Mas isso passa e volto a ser uma espécie de kamikaze que não quer senão uma coisa: viver, viver, viver!"

1.18.2008

A Father´s Music


Descobri este filmezinho a navegar no programa do DocLisboa, muito chateada por nao poder ir ver nada. É poly relevante. e é mais um daqueles filmes quase anacrónicos para quem nao se lembra, para quem nao cresceu á sombra do imaginário ou da existência do muro de Berlim (alguém gosta das "Asas do Desejo" como eu?). Digam de vossa justica. Nao me apetece dizer mais nada.


A Father's Music
de Igor Heitzmann
105´ Alemanha 2007

[Prémio Adobe para melhor primeira obra]

O célebre maestro titular da Orquestra Filarmónica de Berlim, Otmar Suitner, tinha duas mulheres e duas famílias: uma na zona leste, outra na zona oeste da cidade dividida. Dezasseis anos depois de o muro tersido derrubado e de ter deixado a orquestra, Suitner continua a ter duas mulheres e duas casas. O seu filho, jovem cineasta, chega à conclusão que para perceber a estranha história da sua família, deve primeiro perceber a relação do seu pai com a música. Além de regressar com o pai aos locais míticos do passado (ex. Bayreuth), o realizador de "A Father's Music"empurra o maestro para um último desafio: conduzir novamente a Filarmónica de Berlim.

http://www.doclisboa.org/en_programa_28.htm
http://www.nachdermusik.de/en/


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1.13.2008

Simone de Beauvoir II

Quando falo com outros "polies" ou apresento/discuto o conceito poliamor em workshops ou foruns electrónicos etc, perguntam me muitas vezes quando é que o conceito apareceu. É problema que nao me ocupa. Gracas á net e toda a informacao e desinformacao que por lá abunda há diversas vozes. Há pessoas que dizem que tem meia dúzia de anos, outros dizem que "apareceu há 20-30 anos em S. Francisco" e outras coisas mais dispares ainda. No meu caso pessoal, descobri por volta de 97 que existia uma coisa chamada alt.polyamory na usenet que me deu o empowerment e o empurrao necessário para nao desistir e sentar-me a lamentar-me. Se a palavra já existia antes, nao sei nem me interessa muito. Acho que é uma discussao académica. Ha registos de situacoes que se aproximam mais ou menos de situacoes poliamorosas com muitos anos. Vejam por exemplo o artigo sobre os Affrerements, ou vejam o caso da Comunidade Oneida (sobre a qual ainda nao escrevi). Mas o que eu acho muito curioso é realmente ninguem referir Simone de Beauvoir. Estamos a falar aqui de visibilidade poly sem vergonha em meados do século XX, e isso nao é qualquer coisa nem para qualquer um.
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Será que é por nao pertencer ao mundo anglo saxónico, de que a internet está impregnada? será que estamos a presenciar a invibilidade que outras culturas diferentes da nossa teem para discussoes que sao relevantes para além do contexto cultural? Será que se tenta reescrever a história de modo mais a modo para a camisola que vestimos? ou será apenas a involuntária copia de fontes erroneas ou insufiecientes que por forca de se repetir se torna plausível e credível?
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Estas sao as pergunta que de momento me preocupam.

1.06.2008

Celebrando Simone de Beauvoir

Dia 9 de Janeiro será o centenário do nascimento de Simone de Beauvoir.

Há que celebrar!

Simone de Beauvoir, para além de um dos Intelectuais mais importantes do século vinte, e de uma das feministas mais influentes, foi também uma figura importantíssima para o poliamor, apesar de o termo "polyamory" ser posterior à morte dela em 1986.

Simone de Beauvoir teve uma relação amorosa com Jean Paul Sartre, que durou até à morte dele em 1980, e que se caracterizou por permitir abertamente envolvimentos amorosos com outras pessoas. Esses vários envolvimentos resultaram na "petite famille", uma familia extendida que durou até à morte de cada um dos envolvidos (cf. http://fr.wikipedia.org/wiki/Simone_de_beauvoir), apesar de conflictos graves que ocorreram entre eles e, sinceramente, dos muitos exemplos do que não se fazer numa relação poliamorosa.

Simone viveu as suas relações abertamente ao público e escreveu L'invitée, onde descreve o início da relação que ela e Sartre tiveram com Olga, um membro da "petite famille". Este esforço de publicitação do seu modo de vida tinha a ver com o empenhamento em mostrar que é possível viver fora do modelo tradicional da família, que ela considarava tão opressor da mulher como a prostituição.

Muito haveria para escrever sobre ela, mas isso sairia do âmbito deste humilde blog, portanto limitamo-nos a a celebrar uma das mulheres mais extraordinárias do século passado!

1.02.2008

Quando há que dizer: o poliamor talvez nao seja para mim...

Devia comecar o ano com um post optimista, mas o vento nao está de feicao, por isso aguentem-se!
Já se discutiu sobejamente aqui o tipo e frequência de reaccoes que as pessoas teem quando confrontadas com a ideia de poliamor. Nao me refiro a ter conhecido uma carinha laroca e ter de lhe fazer o meu come out poly, mas á situacao de estar a conversar despreocupadamente com alguém, e apanhar com as reaccoes que ja se sabe... nao muito más mas também nada de especialmente empático.

Sendo este blog um pouco um blog de informacao e divulgacao (nao no sentido de converter toda a gente a um modo de vida poliamoroso, mas no sentido de demonstrar que o poliamor é um modo de vida válido e merecedor de respeito) eu se calhar nao devia trazer este tema. Mas "eles andem aí...".

Há pessoas que tentam ter um modo de vida poliamoroso. Definem-se poliamorosas. Teem n+1 namorados, por ex. E conseguem estabelecer um equilíbrio, inclusivamente ao longo de vários anos, para que ninguem tenha ciúmes, ninguem se sinta mal, conseguem que a coisa funcione. Mas... Mas simplesmente nao aguentam quando uma das suas namoradas tem alguém...

Situacao engracada, porque pensamos estar a lidar com uma pessoa poliamorosa, com quem comunicamos em "lingua" poly, com background poly, mas na verdade estamos em "no man´s land". Ainda por cima sem ter especial cuidado em eliminar malentendidos porque achamos que tudo vai ser mais fácil "ah, porque ela é poly, que fixe!".

Tenho vivido recentemente isso.... Interessei-me há coisa de uns meses (enquadramento temporal propositadamente nebuloso para proteger a identidade das pessoas em questao) por duas pessoas poly, numa relacao poly... A relacao entre elas existe ha mais de uma dezena de anos. Chegámos mesmo ao ponto de discutir de modo ligeiro, meio a sério meio a brincar, mas com um brilhosinho nos olhos, a óbvia utopia possível mas óbvia que se entrevia á nossa frente. Mas de um momento para o outro, descambou, precisamente porque uma delas teve ciúmes, uns ciúmes completamente absurdos tendo em conta a situacao. E quem teve ciúmes foi precisamente quem tem uma segunda namorada, ha coisa de anos.

Agora o que teria entre maos seria, se eu o permitisse, uma telenovela mexicana, mas nao me apetece. Nao vou entrar em pormenores sobre o que está a passar porque a historia está a correr ainda, e há muita gente para quem este blog nao é anónimo :-). Só digo: vou eventualmente lutar por aquilo que me apetece (Que já nao é nenhuma utopia possivel, mas uma história pragmática e cautelosa com uma das personagens)... nao me vou retirar da situacao para evitar os ciúmes desnecessários de alguém. E quando a poeira tiver assentado um pouco mais sobre esta história, partilharei os detalhes escabrosos aqui.

Este blog tem falta de alguma audiência, por isso telenovelas mexicanas, cenas escabrosas e escandalosas, situacoes rocambolescas podem talvez ajudar a aumentá-las!

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