http://www.journals.uchicago.edu/press/082007_JMH.html (para começarem).
Façam um search no motor de busca da vossa preferência por "affrérements".
Embora fossem um tipo de relação bem conhecido de vários historiadores que se tenham debruçado sobre o Sul da Europa nos tempos medievais (ver por exemplo "Queer Ibéria" ou "Born to be Gay" para uma resenha sobre este tema ou mais bibliografia), é preciso aparecer um estudo por académicos trans-Pirinéus para que o resultado tenha visibilidade e seja levado a sério. Há casos semelhantes conhecidos e sobejamente apontados para a Península Ibérica. (rant mode off).
Resumindo e limitando-me à verdade dos factos, "affrérements" foram algo parecido (digo "parecido" por motivos explicados abaixo) com uniões civis reconhecidas e em que as partes envolvidas juravam partilhar "um pão, um vinho e um bornal". Ao que tudo indica, previa mecanismos automáticos de herança, e toda a propriedade passava a ser pertença de ambos. A afeição entre as partes parece ser condição sine qua non para este juramento. O autor do artigo, que usou no seu estudo diversas fontes incluído tipos de sepultamento em cemitérios públicos, defende que estas uniões foram algumas vezes sim, outras não, usadas para legitimar uniões sentimentais de indivíduos do mesmo sexo. A diferença cultural e epistemológica que nos separa, cabecinhas mimadas do século XX/XXI, da Idade Média de há 600 anos, não permite, em toda a verdade, fazer uma analogia e saltar para conclusões como as que a imprensa LGBT parece estar a fazer: títulos como "Coming out in the middle ages" ou "Homosexual legal unions bla" (Ex: http://www.gay.com/news/article.html?2007/08/24/5). Um pouco irritante para não dizer abusadora, esta mentalidade mono-normativa actual a assumir que também na Idade Media será o sexo entre pessoas a definir a afeição e o tipo de relação. Há alturas em que não consigo estar do mesmo lado da barricada sem alguma "reserva moral". De qualquer modo, onde parecemos estar todos de acordo, é que os "affrérements" eram relações entre indivíduos entre os quais havia afeição e que a sociedade não parecia estar contra.
Há mais pontos que se poderiam referir aqui, mas acho que vos deixo esse prazer… Boa leitura.
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