2.25.2007

Mini festival de Cinema em Oldenburgo


Pré anuncio:


Na pequena localidade de Oldenburgo, a incipiente mas aguerrida comunidade poli está afanosamente ocupada a organisar um ciclo de cinema de temática poliamorosa (Oldenburg Filmfest mit Polyfilmen) . Segundo os próprios organisadores, será "um evento á escala da localidade" e estao á procura ainda de sala e patrocinio.


Um evento para ir seguindo.

2.22.2007

comentario ao "murcon", ou manifesto poly draft

(Obrigada á L. pela tip)

Fui espreitar o post de Julio Machado Vaz a proposito do livro Mito da Monogamia

http://murcon.blogspot.com/2007/02/monogmico-por-cansao.html


E acabei por lá deixar um comentario, que bem pode ser um manifesto poli (seria, se eu soubesse escrever com talento e verve!)
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Ha aqui um problema de linguagem.

Monogamia tem querido dizer que nao se abandona a pessoa com quem publicamente se tem uma relacao para nos envolvermos fisica ou/e emocionalmente com outros. Depois há a monogamia em série, em que para nao termos o sentimento de culpa da "traicao" abandonamos sucessivamente parceiros antigos quando nos fascinamos com um novo.

Depois, ha outras opcoes de vida, como quando decidimos substituir o primado da monogamia pelo da sinceridade:

http://laundrylst.blogspot.com/2005/01/o-dia-em-que-atirei-monogamia-s.html#links
http://laundrylst.blogspot.com/2006/04/international-conference-on-polyamory.html#links

(todo o blog laundrylst.blogspot.com é dedicado ao poliamor e suas variantes)

Porque é que uma pessoa tem de ser tudo para mim? Amante, namorado, educador dos meus filhos, cumplice? Isso é sobrehumano… porque nao hei de estar com pessoas cujas facetas sao as melhores no seu campo? Porque nao hei de gostar de duas pessoas (sim, a minha historia) sem dramas nem ciumes? É possivel, e é assim que vivo há uns anitos (e outros que conheco), mas nao encaixa no modelo normativo de sociedade que temos.

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2.12.2007

A super mulher nao é feita de papelão

(obrigada á PV pela ideia, mais uma vez numa altura em que nao consigo ir á procura de outras histórias)

Nada nos parece mais mainstream e conservador que a personagem da Super Mulher (Wonder Woman). Parece o típico produto dos anos reaccionários, uma heroina sexy, de busto e pernas elegantes destinada a agradar a um público consumidor alvo predominantemente masculino (eram os anos em que os consumidores de comics eram... bem... geeks a sério...). Enquando o Super Homem e o Homem Aranha teem direito a cobrir o seu pudor com fatos (justos) de corpo inteiro (o Super Homem tem mesmo direito a vestir cuecas sobre as calcas, hábito de gosto duvidoso, mas eficiente a cubrir a sua frágil pudenda), a pobre Wonder Woman tem apenas direito, mesmo durante os duros Invernos novayorquinos a cobrir o mínimo que o decoro nao cede, num bikini metálico, apenas coberta por uma capa e a sua sexy cabeleira abundante.

Nao sei se alguma vez os criadores de Wonder Woman se detiveram com tais consideracoes. Mas por trás da Wonder Woman, heroina de papel, está uma história de poliamor de carne e osso e nada ficcional.
Os criadores da heroina de BD são Elizabeth Holloway Marston (1893-1993) e o seu marido William Moulton Marston.



nao tem nada a ver com a Super Mulher, mas estas Chicks on Speed sao Super Mulheres IMHO

Com uma formacao em Psicologia e Direito e alguma carreira académica, Elizabeth Marston criou e modelou Wonder Woman juntamente com o seu marido, William. A personagem foi parcialmente baseada em si mesma. As restantes características foram inspiradas em Olive Byrne, a qual viveu com o casal Marston numa relação poliamorosa. Elizabeth e William tiveram duas crianças, e William e Olive mais duas, que foram adoptadas 'de facto' por William e Elizabeth. Após a morte de William, as duas mulheres continuaram a viver juntas e a educar as quatro criancas até á morte de Olive.




excerto do QI, programa apresentado pelo Stephen Fry:

QI, BBC4, 10 Nov 2006, about half-way in:
Jonathan Ross: Can I tell you about Wonder Woman? Wonder Woman's creator was William Moulton Marston ...

Stephen Fry: Absolutely.

Ross: ... who wrote under the pen-name of Charles Moulton, and who was in a polygamous and indeed polyamorous relationship with the woman who co-created Wonder Woman, and another lezzer on the side.

Fry: Absolutely right! *applause* Yep!

Fry: You're right, he married his wife Elizabeth , 22 years of age, and then carried on this affair with Olive.

Ross: And I think they moved in together, didn't they?

Fry: They all moved in together, he had two children by each, and then when he died, Olive and Elizabeth stayed together right up until the death of Olive in the eighties.

Ross: I think it's rather a beautiful story.

Fry: It is a lovely story.

2.09.2007

Ética, banha da cobra, poliagamia e IVG e o que mais quiserem...

Este artigo não vai ser sobre poliamor, nem vai ser, como parece, sobre a IVG (tantas vezes confundida com aborto), mas sobre ética e como um artigo usa e abusa da palavra ética mas sem aprofundar o uso do conceito. Mas não garanto que não me fuja a mão para umas excursões sobre poliamor e IVG. Como o artigo que comento resolveu usar a poligamia como exemplo de comportamento imoral, apeteceu me bater lhe.
O artigo em questão, por Saarfield Cabral, saiu no DN de sábado (3 de Fevereiro de 2007: http://dn.sapo.pt/2007/02/03/opiniao/debate_etico_e_leis_aborto.html).




Bruno, Giordano


Uma das primeiras teses do artigo é que o aborto (nome usado pelo autor e com o qual eu não concordo, sendo IVG o termo mais adequado) é uma decisão de consciência. Não é, porque se o fosse, pessoas nao iriam para a cadeia por o praticar ou ajudar a praticar.

Em seguida, o autor, enumera três pontos porque a discussão sobre a IVG é tão positiva. Venham eles:

1) Algo como a ética ser importante, porque senão torna-se aceitável fazer qualquer coisa desde que toda a gente o faça. Esta frase é um eco (distorcido) da frase de Adriano, imperador (cito e mal, de memória): "é importante legislar de modo a que as pessoas vejam a lei como natural, sem emitir leis que as pessoas violem sistematicamente, senão perdem o respeito á Lei como instituição" (Vejam "Memórias de Adriano" de Yourcenar, grande livro).

2) A existência do debate é fixe porque faz com que as pessoas tomem decisões racionais. (ok, aceito, mas é wishful thinking, no caso da IVG as decisões serão, e isso não é sempre mau, também emocionais).

3a) A "formação democrática de consensos, nunca unânimes mas maioritários" é um contrasenso em si mesmo. A democracia não é a ditadura da vontade da maioría sobre a minoria, mas sim a elaboração, por parte de governantes eleitos por uma maioria, de leis e princípios que sejam justos e inclusivos para todo os sectores da sociedade. Um consenso é por definição unânime, mesmo que para o atingir se tenham que fazer compromissos durante a discussão em relação á ideia original.

3b) Mais uma vez o argumento da liberalisação ser um assunto pessoal, que não é, pois o Estado, neste momento, decide pelas mulheres (ou pelo casal, como os defensores do NÃO gostariam de ouvir), e priveligiando a vida do embrião (erradamente chamado feto neste contexto) sobre o corpo e vida da mulher.

Enough said sobre os pontos (2) e (3)s, voltarei ao ponto (1), que me abriu o apetite para a peleja. O autor defende a tese, de que se "a ética é afastada numa sociedade" entao só resta começar a legislar coisas como a poligamia e partidos pedófilos (na Holanda). Pacheco Pereira gosta também de bater generosamente neste ponto, vide abrupto.blogspot.com acerca disto. Eu baterei de maneira menos sofisticada e por outras razões.

A ilegalização da poligamia nas sociedades ocidentais foi, no devido contexto, um grande passo na direcção de uma maior dignidade humana, quer da mulher quer do homem. Afastou a percepção da mulher como sinal de status, como qualquer outra mercadoria, sinal da prosperidade de alguém. Não desenvolverei mais isto, há rios de tinta sobre o assunto.

Mas não vejo as sociedades que actualmente praticam a poligamia, ou as sociedades que noutras épocas a practicaram, a serem mais atrasadas ou menos éticas que a "nossa" (disclaimer: isto NÃO é um artigo sobre poliamor, mas sobre liberdade e sobre percepções da ética). Essas sociedades parecem-me estruturadas com igual grau de complexidade, dinâmicas semelhantes, mesmas guerras, mesmo anelo de paz, etc.. Esta culpabilisação duma opinião contrária, presenciamos recentemente quando o poliamor foi comentado como "muito bonito, mas se vocês amassem a sério então eram certamente monogâmicos"...

A minha interpretação abusiva é que o autor tem dificuldades em "pacificamente conviver com gente de muitas e variadas concepções de vida". Ou talvez coexista, mas preferiria não os ver ou saber da sua existência.

Que diria este autor do Poliamor, que é uma coisa ainda menos estruturada que a poligamia? Também que "quem ama é fiel"? ou que como não temos ética que ganhamos a vida a roubar carteiras no Rossio ou a vender banha da cobra na rua das Portas de Sto Antão (onde vi o último vendedor de banha da cobra, quando tinha 6 anos)? Ou dirá talvez que quando os poliamorosos forem muitos que passará a ser aceitável dizê-lo em voz alta, em frente de muita gente e de crianças?? Acerca desta última questão, espero bem que SIM!!!

Sim pela IVG, sim pelo poliamor ás claras, sim por liberdade responsável!!!!

Animula, vagula, blandula

Hospes comesque corporis

Quae nunc abibis in loca

Pallidula, rigida, nudula,

Nec, ut soles, dabis iocos...

P. Aelius Hadrianus Imp.

2.08.2007

Polyamory já vem no dicionário


A palavra "Polyamory" passou, em Setembro de 2006, a ser oficialmente listada no Oxford English Dictionary, e cerca de seis meses mais cedo no Webster Collegiate Dictionary. A definicao constante no Webster reza o seguinte:

Main Entry: Polyamory
Part of Speech: n
Definition: participation in multiple and simultaneous loving or sexual relationships

Main Entry: polyamorous
Part of Speech: adj
Definition: pertaining to partipation in multiple and simultaneous loving or sexual relationships


O mesmo Webster Collegiate Dictionary tem também, na sua seccao de refêrencias, um artigo relativamente extenso sobre polyamory:

http://www.reference.com/browse/wiki/Polyamory

Para quem tropeca neste artigo ao fazer a sua primeira pesquisa sobre o tema, está melhor que muitas outras fontes.

2.03.2007

LOT: uniao civil no méxico


As unioes civís e toda a discussao (a nossa discussao) sobre o casamento entre pessoas do mesmo género, (independentemente de como o genero é definido - dizem que é o Estado que sabe qual o género de alguém), costuma criar-me sentimentos muito mistos.

Por um lado, acho que (1) há coisas mais prioritárias em que a nossa comunidade (glbt) se deveria concentrar (intervencao social para mudar as mentalidades, accoes urgentes contra homofobia de facto, etc). (2) queria ver o casamento e todos os seus privilégios injustos (*) como é reconhecido pelo estado e sociedade a desaparecer de vez da face da Terra em vez de ser um conceito cada vez mais alargado.

Por outro lado, como sei que esta é uma batalha perdida, prefiro ficar feliz quando mais uma conquista é feita na nossa comunidade no campo do casamnto e unioes de facto.

Desta vez foi no México, país que me tratou bem e onde fui feliz. Duas mulheres (Karina Almaguer e Karla Lopez de Tamaulipas) juntaram se em "uniao civil de solidariedade", nome convenientemente escolhido pelos legisladores para agradar a gregos e a troianos:

http://www.planetout.com/news/article.html?2007/02/01/1

(*) injusto: porque duas pessoas que vivem juntas já teem mais sinergias do que qualquer pessoa que viva sozinha. Mas para o Estado isso nao chega e ainda concede aos casados reducoes de impostos e benesses legais.