1.05.2007
A necessidade de (nao) escolher, parte I
Este post comecou por ser um email muito pessoal mas tanto eu como a recipiente achamos que valia a pena publicar, pois pode ter interesse para mais gente. Nao é somente sobre poliamor ou identidade sexual/emocional. É a minha história e talvez a historia de mais gente.
Vou comecar por falar "daquilo como nascemos" para acabar a falar do modo "como nos veem".
A mononormatividade magoa-me de todas as maneiras.. Quando me classificam em qualquer categoria, mesmo uma que eu nao considere ofensiva. Porque vao comecar a tirar ilacoes e extrapolacoes. Isto é valido para tudo, desde dizer que sou vegetariana, até o queer, passando por ser portuguesa no estrangeiro. As tais ilacoes teem o aspecto de frases do genero "os vegetarianos sao assim e assado, e as lésbicas sao frito e cozido..." Em condicoes de laboratório, ou seja, se me largassem no "mundo" sem ligacoes ao passado ou ao meu presente que se tornou querido á forca de pulso, eu seria, salvo erro, lésbica no sentido literal da palavra. Nao ligo a homens fora da amizade ou de discussoes "tecnicas" sobre tópicos que eu gosto (geralmente música e outras geekices), nao que me obrigue, mas simplesmente porque tem acontecido assim. Apaixono me por mulheres, e nem vou referir a parte da queca, porque acho que a parte sexual nao define a chamada "orientacao sexual" (designacao infeliz de quem acha que o sexo define a existencia ou a saúde de uma relaccao). Fala aqui uma pessoa que esteve junta vários anos com uma pessoa que nao gosta de sexo.
Na prática, nao estou em condicoes de laboratorio. Ha um gajo na minha vida que conheco de ginjeira. Conheco tao bem que me esqueco se é gajo ou que lingua fala. Nao é importante, e quem nao gosta que meta rolhas. Quando entrei nos activismos lgbt, ou na incipiente cena social lésbica portuguesa, há uma dezena de anos, senti que tinha sempre de me esconder ou na melhor das hipoteses, de me justificar. Ultimamente isso mudou, a cena está mais fixe, mais solta, com menos problemas de identidade e menos fascismo ideologico. Noutras palavras, mais autoconfiante. Há quinze anos, eram os anos áureos do separatismo lésbico e do "nao gasto energia com mulheres que a transmitem a homens". A atingir a minha paz interior, apesar desta hostilidade vivida no meu passado na cena portuguesa ajudaram: as poucas cenas estrangeiras em que vivi, muito bi friendly (embora eu nao me defina como bi... Talvez cis-lesbica ;-) ? ) e muito "porosa" (as festas sao explicitamente trans-friendly, muitas vezes tb hetero friendly, um certo sentido de missao politica e ao mesmo tempo de "fun"), e a minha actual namorada, que nao se definindo como poly, e se definindo como polit-lesbian encoraja me no que é um estilo de vida poly e bi, desde o primeiro dia dos dois anos que estamos juntas.
Ha muita poli-hostilidade oficial e oficiosa na cena GLBT, por receio que isso comprometa as discussoes e negociacoes á volta do casamento gay etc. mas por toda a base historica no movimento gay acerca de quebrar tabus e romper com codigos de conduta bacocos, espero uma maior tendencia para haver modos de vida poli ou poli-simpatizantes na cena glbt do que fora.
Vamos ver como as coisas se desenvolvem.
Em resumo, nao sei aquilo que sou, e seja o que for, nao sei se me tornei ou nasci. Mas acreditei durante muito tempo (demasiado) que era hetero e que era monogamica. E tambem acreditei durante muito tempo (demasiado) que tinha a obrigacao de "escolher": ser monogâmica e ser uma lésbica bem comportada ou voltar rastejando para o mundo heterosexual.
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Yup, this is it ;)
ReplyDeleteContinua com estes posts, sff, e nada de escreveres nomes a tinta branca, num fundo branco, para fins menos honestos! LOL!
Beijoca.
Obrigada por mais esta reflexão. Nada como um pé dentro e um fora para se ter uma perspectiva um pouco mais clara. Beijinhos
ReplyDeletepenso que mentras no grupo mais conservador do mundo gay (parellas mono, parellas casadas...) pode opoñerse o polyamor, é noutros grupos mais marxinales (o chamado "queer") que están a probar outras maneiras de facer as cousas.
ReplyDeleteSinto non saber portugues nin galego. Espero iste megamix axude.