2.11.2005

Encher Chouricos com Neve

Este blog está um coche parado, mas a esperança é a ultima a morrer.

A única coisa digna de registo num dia tão rotineiro que até mete nojo (inclusive o esmagamento habitual de qualquer resquício de auto-estima), foi a fotografia de Lisboa debaixo do nevão de '54.

Para começar, eu andava á cata dessas fotografias há imenso tempo, desde que a minha mãe me contou essa história. Depois porque a ideia de neve em Lisboa é tão estapafúrdia que se presta a delírios imaginativos discretos à frente do computador enquanto se está com ar de trabalhar no meio de colegas ainda mais ocupados que nós (pensamos nós, mas o poeta é sempre um fingidor).

Coisas que me passaram pela cabeça:

batalhas de neve nos pátios em Alfama... ou nas Portas do Sol..
bonecos de neve obscenos...
neve a derreter e as sargetas todas entupidas...
as calcadas inclinadíssimas da Graça e etc com neve..
os trambolhões e as urgências bem cheias em S. José!
os carros estacionados nas ditas calcadas.... e a deslizareeeeeemmmm!!!
a caca dos pombos misturada com a neve e escorregar naquilo e cair com o nariz na poia dum cão... (já cá faltava a escatologia).
se a temperatura baixasse o suficiente.. ir patinar no gelo no lago do Campo Grande (visão dantesca... ser assaltada em patins.. ou ter exibicionistas a correr atrás de mim em patins...)

Mas na verdade tenho uma pena tremenda e queria ter visto Lisboa com neve e sem Cristo-Rei e sem ponte. Deve ter valido a pena.

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2.03.2005

Our Laundry List - Meu país fado maior - José Gil

Meu Pais, Fado Maior (título roubado de Paulo Braganca)


O mote que recebi hoje foi o que está transcrito abaixo. Mas vem no seguimento do post anterior. Não queria começar a bater no ceguinho (em Portugal), porque é demasiado fácil e é precisamente condescender com aquilo que critico. Mas não resisti. Sinto muito.

Mote : Temos um português entre os 25 mais notáveis pensadores a nível internacional segundo "Le Nouvel Observateur". O filósofo José Gil pensou sobre nós, portugueses, e mostra-nos como somos, já que não temos capacidade para o descobrirmos sozinhos. A obra que está agora na berra é "Portugal hoje, o Medo de Existir". Citação: "Temos medo de enfrentar os outros, temos medo de dizer o que pensamos. Como se a expressão do que pensamos se voltasse contra nós". "Oscilamos entre o "eu sou o maior e o "eu não sou ninguém". Em suma não sabemos quem somos. !


Concordo e nao concordo. Os portugueses são exímios a descobrir, ou a redescobrir o medo que têm de si próprios como colectivo. Claro que vêm sempre isso nos outros e nao em si mesmos. Isso é o tema de todas as conversas de café, é o eterno queixume, que se torna ensurdecedor para quem já se fartou de queixar e descobriu o medo de morrer sem ter vivido.
Temos um povo de felicidade adiada, porque a maioria que fala, trocou o fazer pelo falar constante. A minoria que não fala e que faz, é silenciosa e não aparece pelos cafés nem pelo corredor do escritório com uma dor aqui ou com uma queixa do colega que lhe fez não sei o quê.

O mérito de José Gil, para a massa que lhe está a comprar os livros compulsivamente, é ter a reputação que tem, de grande pensador, por isso todos os portugueses descobriram em peso que têm uma desculpa para continuarem a fazer o que fazem, desta vez com legitimação intelectual. Se afinal um dos melhores pensadores se ocupa a diagnosticar os medos da nação, porque não havemos nós de o fazer? E é isso que fazemos todos. Até eu, neste momento.


Para saber mais sobre o senhor José Gil:
http://www.iplb.pt/pls/diplb/!get_page?pageid=402&tpcontent=FA&idaut=1426340&idobra=&format=NP405&lang=PT

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2.01.2005

A mediocridade

...Chama-se Portugal.

Acabei de ler tudo acerca do infame jantar do Santanás Lopes com as mil mulheres (haveria lésbicas entre elas?), incluindo o repto a todos os líderes partidários para esclarecer a sua posição acerca do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Isto tudo vem tão cheio de gosma oportunista, derivada de boatos ridículos, que só me dá vontade de enterrar a cabeça num balde de areia e fingir que nasci noutro país qualquer (sim, no Iraque também... err... enfim... Talvez não)

O facto do PSD não demiti-lo imediatamente, ou pelo menos tentar colocá-lo numa instituição psiquiátrica, só demonstra que acreditam que ele está a seguir uma estratégia válida para ganhar as eleições, ou sejam que a homofobia em Portugal pode ganhar votos.

Se o PSD ganhar em Fevereiro o meu amado Portugal terá batido muito fundo. E será por falta de carácter.

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