Reflexões sobre "polícia e manifestantes anarquistas" na manifestação anti-NATO em Lisboa
Vi, duma distância segura de quase 3000kms, no telejornal a noticia sobre a manifestação anti-Nato ontem em Lisboa.
Passei me bastante com várias coisas, mas segui com interesse particular (a partir do minuto 25) a descrição nada independente de como a polícia separou um grupo de manifestantes com base na alegação de que seriam elementos anarquistas. " Ânimos exaltados entre policia a manifestantes anarquistas", rezava o headline. o jornalista editor repetiu alegremente a argumentação da polícia sem sequer pensar ou talvez querer pensar se seria de facto assim, se a carapuça é enfiada pelos interessados... o texto abaixo é a minha pequena reflexão acerca disto...
http://tv1.rtp.pt/multimedia/progVideo.php?tvprog=1103
Vejo aqui portanto dois aspectos.
um a actuação da polícia, que se permitiu separar manifestantes a titulo preventivo, dizendo que esses elementos seriam anarquistas, sem justificação nenhuma nem de onde é que vem essa etiqueta, nem porque é que há uma relação entre anarquismo como identidade e violência.
o outro é o noticiário repetir bovinamente a citação da polícia "manifestantes anarquistas" que é na verdade no mínimo dado por confirmar e sem ouvir ambas as partes envolvidas.
independentemente de a palavra anarquista ser simpática ou não, não acho que seja inocente a imprensa repetir uma adjectivação que não foi reclamada pelos interessados. E acho preocupante que a polícia se permita uma manobra supostamente preventiva baseada numa suspeita, que por aquilo que eu investiguei até agora, não tem nenhum fundamento. E mesmo que tenha fundamento, então por favor, actuem com base num fundamento e não com base numa identidade ou apenas "pela pinta".
e a questão que se põe também, é, mesmo que as tais pessoas reclamassem publicamente esse tal "anarquismo", são anarquistas pessoas com um estatuto especial que não se podem manifestar juntamente com os outros? Tem de estar separados do resto da população para não transmitirem doenças perigosas? Sem o mínimo de ironia, gostaria de ouvir uma explicação legal acerca deste ponto. IMHO, um eventual motivo justificável para uma intervenção da policia é o aparecimento, ou, concedo, uma suspeita forte de possibilidade de violência, seja ela originária de anarquistas, fans de futebol ou donas de casa em fúria consumista na abertura dos saldos. É o fazer e não o ser que é perigoso, e é por essa cartilha que supostamente um estado democrático se rege.
Não é trabalho da polícia avaliar, com base na pinta e critérios subjectivos, se alguém pode ser perigoso ou não. É o trabalho da polícia reagir contra violência ou eventualmente preveni-la com base em argumentos objectivos.
Acerca do jornalismo que é feito, acho que já muita gente com mais talento argumentativo que eu se tem queixado. Chamo aqui a atenção para que jornalismo, seja ele descritivo ou narrativo, não pode simplesmente citar uma das partes sem citar a outra, ou se querem fazer parangonas como " Ânimos exaltados entre polícia a manifestantes anarquistas" é bom, para não dizer óbvio, deixar claro que essa é a posição da polícia. Interessar-me-ia na verdade saber se essa carapuça é enfiada pelas pessoas envolvidas. E sinceramente, incluir uma frase implicando que a presença de espanhóis (mostrando depois os ícones euskadi usadas por alguns manifestantes) está ligada com a possibilidade de violência é no mínimo ingénua, de um modo velha guarda, e maldosa ao mesmo tempo....
e, num tom mais irónico e menos sério, basicamente sempre que houver uma manifestação cujo numero de participantes me incomode, como governante, só tenho que envolver a policia a separar os manifestantes com base na suspeita de serem elementos sportinguistas infiltrados, para que a manifestação perca peso e coesão. é isso? Ou melhor ainda, com base num suposto jornalismo descritivo, só tenho de citar uma das partes, de preferência a que tem os argumentos ou citações mais bombásticas e ignorar a outra, é isso?
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conviver com a liberdade gay,
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