Quer aqui quer no polyportugal tenho evitado histórias pessoais, mas ando a chegar à conclusão que é exagero meu. Vou tentar começar uma série de "mostra e conta", em que me vou basear no arquivo de entrevistas que dei ou conversas que tive no skype e nerdices semelhantes.
O texto que se segue é uma adaptação das respostas às perguntas "Que regras é que tenho na minha constelação actual, e quais as regras e valores mais importantes" e "como se gere o tempo e o ciume". Para quem não está completamente por dentro, há em meios poly a crença (sim, crença) muito espalhada que as relações poly funcionam bem quando há um bom e sólido sistema de regras, associado com a comunicação como um valor universal über alles, por isso é uma pergunta inevitável e pertinente. Eu começo a distanciar-me disto, embora continue a recomendá-lo.
Tive muitas relações com regras, principalmente no principio desta aventura (aka a minha vida poly, há quase vinte anos). As regras ajudam porque definem o domínio, o espaço, muitas vezes maior do que pensamos, onde somos livres. Criam uma ideia em primeira aproximação (um pouco errónea) de segurança que ajuda a criar as bases para uma segurança de facto, à posteriori. Mas também pode acontecer que as regras podem estar mal definidas, por exemplo porque as pessoas conhecem mal as suas próprias necessidades necessidades, ou dos parceiros, ou porque numa altura precisam mais de segurança do que noutras, etc.
Neste momento, e porque muita coisa está a mudar na minha vida e na de todos os componentes da minha constelação (incluindo os componentes de segunda geração, ou seja, os amores-genros, os amores dos meus amores), mandámos a maior parte das regras pela janela porque simplesmente não estavam a trazer nenhum acréscimo de segurança ou bem-estar. A única regra neste momento é falar uns com os outros e avisar por exemplo se há ou vai haver "mouro na costa". Mantivemos esta regra não por ser uma "boa regra universal" mas porque no nosso caso particular não somos imunes a ciume, e embora queiramos ser livres e que os outros sejam livres, não queremos surpresas ou ter que ver certas coisas acontecer à frente do nariz, pelo menos em certas situações de fragilidade. Fazemos regras pragmáticas para certas situações e janelas temporais e deixa-mo-nos de regras gerais, neste momento não faz sentido. Claro que a regra de falar muito no meu caso é ridícula pois é automático, eu não seria capaz de ter uma relação onde não se falasse, é algo da minha natureza fala-barato e que me é fundamental. Há claro regras no que diz respeito a fazer espaço para ver-mo-nos, acerca de saúde (Sexual e não só), acerca de dinheiro, férias, escolha do desenho de um apartamento e distribuição dos moveis na casa (São poly friendly? geram privacidade? tornam processos e decisões transparentes), coisas práticas e comezinhas mas que estruturam muito.
Dito tudo isto, onde quero chegar, é que o valor supremo para mim é a confiança, mais do que a comunicação. Como explicarei mais abaixo, para mim a comunicação é uma óptima (das muitas existentes) maneira de atingir confiança e respeito. Outros funcionarão de outra maneira. Por outras palavras, vejo a comunicação como ferramenta para a confiança e não como fim em si.
Ilustrando com o exemplo da gestão do ciume e do escasso tempo, vemos ad nauseam em discussões electrónicas a defesa da comunicação mas IMHO no geral o truque subjacente é criar confiança e ou evitar situações que são fragilizantes para outra pessoa. Se isso é feito através de diálogo, através de regras detalhadíssimas, ou de regras gerais, ou simplesmente de "eu não quero ver nem saber o que fazes mas tens a minha bênção" é uma questão pessoal. Não funcionamos todos da mesma maneira, não criamos confiança todos da mesma maneira, nao somos felizes da mesma maneira. Para finalizar, e à laia de comentário, o "respeito" anda de mãos dadas com esta confiança. Se se respeita alguém, é ainda possível magoar alguém, via mal entendidos ou boas intenções daquelas que sobrelotam o Inferno, etc mas é bastante menos improvável do que magoar simplesmente porque, não havendo respeito, ser completamente igual ao litro se algo magoa ou não.. No caso do tempo, acho que o respeito toma o mesmo papel. Nao faz sentido definir ou regular quando é que se está com alguém se se calhar não se quer isso sempre ou o método oblitera ao objectivo. Mas o respeito, e em particular o saber que aquela pessoa está comigo quando está porque naquele momento quer, é para mim determinante. Posso assim, a titulo de exemplo e exagerando um pouco, estar numa relação em que, por exemplo, vejo a pessoa 5 min numa semana e estar felicíssima e completa, enquanto que passar todo o dia com alguém que não me trata dessa maneira é um exercício estéril de organização e manipulação do tempo...
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O texto que se segue é uma adaptação das respostas às perguntas "Que regras é que tenho na minha constelação actual, e quais as regras e valores mais importantes" e "como se gere o tempo e o ciume". Para quem não está completamente por dentro, há em meios poly a crença (sim, crença) muito espalhada que as relações poly funcionam bem quando há um bom e sólido sistema de regras, associado com a comunicação como um valor universal über alles, por isso é uma pergunta inevitável e pertinente. Eu começo a distanciar-me disto, embora continue a recomendá-lo.
Tive muitas relações com regras, principalmente no principio desta aventura (aka a minha vida poly, há quase vinte anos). As regras ajudam porque definem o domínio, o espaço, muitas vezes maior do que pensamos, onde somos livres. Criam uma ideia em primeira aproximação (um pouco errónea) de segurança que ajuda a criar as bases para uma segurança de facto, à posteriori. Mas também pode acontecer que as regras podem estar mal definidas, por exemplo porque as pessoas conhecem mal as suas próprias necessidades necessidades, ou dos parceiros, ou porque numa altura precisam mais de segurança do que noutras, etc.
Neste momento, e porque muita coisa está a mudar na minha vida e na de todos os componentes da minha constelação (incluindo os componentes de segunda geração, ou seja, os amores-genros, os amores dos meus amores), mandámos a maior parte das regras pela janela porque simplesmente não estavam a trazer nenhum acréscimo de segurança ou bem-estar. A única regra neste momento é falar uns com os outros e avisar por exemplo se há ou vai haver "mouro na costa". Mantivemos esta regra não por ser uma "boa regra universal" mas porque no nosso caso particular não somos imunes a ciume, e embora queiramos ser livres e que os outros sejam livres, não queremos surpresas ou ter que ver certas coisas acontecer à frente do nariz, pelo menos em certas situações de fragilidade. Fazemos regras pragmáticas para certas situações e janelas temporais e deixa-mo-nos de regras gerais, neste momento não faz sentido. Claro que a regra de falar muito no meu caso é ridícula pois é automático, eu não seria capaz de ter uma relação onde não se falasse, é algo da minha natureza fala-barato e que me é fundamental. Há claro regras no que diz respeito a fazer espaço para ver-mo-nos, acerca de saúde (Sexual e não só), acerca de dinheiro, férias, escolha do desenho de um apartamento e distribuição dos moveis na casa (São poly friendly? geram privacidade? tornam processos e decisões transparentes), coisas práticas e comezinhas mas que estruturam muito.
Dito tudo isto, onde quero chegar, é que o valor supremo para mim é a confiança, mais do que a comunicação. Como explicarei mais abaixo, para mim a comunicação é uma óptima (das muitas existentes) maneira de atingir confiança e respeito. Outros funcionarão de outra maneira. Por outras palavras, vejo a comunicação como ferramenta para a confiança e não como fim em si.
Ilustrando com o exemplo da gestão do ciume e do escasso tempo, vemos ad nauseam em discussões electrónicas a defesa da comunicação mas IMHO no geral o truque subjacente é criar confiança e ou evitar situações que são fragilizantes para outra pessoa. Se isso é feito através de diálogo, através de regras detalhadíssimas, ou de regras gerais, ou simplesmente de "eu não quero ver nem saber o que fazes mas tens a minha bênção" é uma questão pessoal. Não funcionamos todos da mesma maneira, não criamos confiança todos da mesma maneira, nao somos felizes da mesma maneira. Para finalizar, e à laia de comentário, o "respeito" anda de mãos dadas com esta confiança. Se se respeita alguém, é ainda possível magoar alguém, via mal entendidos ou boas intenções daquelas que sobrelotam o Inferno, etc mas é bastante menos improvável do que magoar simplesmente porque, não havendo respeito, ser completamente igual ao litro se algo magoa ou não.. No caso do tempo, acho que o respeito toma o mesmo papel. Nao faz sentido definir ou regular quando é que se está com alguém se se calhar não se quer isso sempre ou o método oblitera ao objectivo. Mas o respeito, e em particular o saber que aquela pessoa está comigo quando está porque naquele momento quer, é para mim determinante. Posso assim, a titulo de exemplo e exagerando um pouco, estar numa relação em que, por exemplo, vejo a pessoa 5 min numa semana e estar felicíssima e completa, enquanto que passar todo o dia com alguém que não me trata dessa maneira é um exercício estéril de organização e manipulação do tempo...
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