4.29.2006

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International Conference on Polyamory and Mono-Normativity, Memorandum Gwendolin Altenhöfer for SERGEJ


Este é o segundo artigo sobre o mesmo tema em poucas semanas. Na verdade será uma tradução de um artigo, com alguns comentários.

A autora, G. Altenhoefer, visitou a 1st International Conference on Polyamory and Mono-Normativity, Hamburg e escreveu três artigos diferentes em publicações distintas sobre o que viu, ouviu e sentiu. Há três semanas publiquei o primeiro, mais resumido, dessa série:

http://laundrylst.blogspot.com/2006/03/lesppress-report-on-1st-international.html

Hoje deixo-vos com uma tradução do artigo mais longo, originalmente publicado na revista SERGEJ (publicação mensal da comunidade GLBT em Munique) acompanhada por uma introdução minha (que modifiquei um pouco, devido à sua especificidade original, para poder publicar aqui), que foi publicada recentemente em Portugal numa publicação específica para mulheres da comunidade GLBT.

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Nestas últimas semanas muit@s de nós têm assistido com preocupação, esperança e solidariedade à história de Teresa e Helena. Sem dúvida muit@s apoiam a sua causa que acaba por ser uma causa pela igualdade, e uma causa de todos nós.

Mas, mesmo assim, alguns de nós não se revêm no modelo de relação constituído por um par monogâmico. Alguns de nós, quer por crítica feminista aos modelos patriarcais, quer por inclinação romântica ou pelos mais variados outros motivos, rejeitam o modelo monogâmico.

O movimento Polyamory (ou Poliamor) tem crescido lentamente mas de modo constante nas ultimas décadas nos EUA. Têm aparecido termos como Não Monogamia Responsável, Polifidelidade, entre tantos outros. Na Europa, movimentos começaram a surgir mais timidamente no Reino Unido, Suíça e Alemanha. Na Alemanha eu e outras temos acompanhado a sua versão lésbica e feminista, a Schlampagne.

Um dia uma de nós resolveu entrar num comboio com outras para ir a Hamburgo ao que foi a primeira conferência internacional que discutiu abertamente este tipo de relações não convencionais, e escreveu um resumo do que viu na SERGEJ, uma das publicações mensais GLBT na cidade de Munique. É este artigo que vos deixo aqui, traduzido para o português, e que espero sinceramente que vos interesse. Gostaria muito de ouvir as vossas opiniões.

Nota: deixei alguns termos em inglês por ainda não existirem traduções precisas em português. Gostaria de ler e ouvir os vossos comentários. antidote@imensis.net


SERGEJ (publicação mensal para a comunidade GLBT em Munique, RFA).

International Conference on Polyamory and Mono-Normativity, Hamburg, 4.-6.11.2005
Memorandum de Gwendolin Altenhöfer (polylogo@gmx.de)


No auditório da Universidade de Hamburgo estiveram presentes mais de uma centena de pessoas que ouviram atentamente as apresentações sobre o tema da conferência: "Polyamory (em português Poliamor [1]) e Relações Múltiplas".

"Eu vim cá para ver e conhecer pessoas que amam mais do que uma pessoa", assim se exprimiu uma participante

suíça: "Onde vivo, conheço muito pouca gente que compreenda realmente o meu modo de vida. Mas aqui não sou a única e tenho a oportunidade de aprender muito de outras pessoas que seguem o mesmo modelo polifidelidade de vida que eu!"

A primeira conferência internacional sobre este tema, que se realizou em Hamburgo, no princípio de Novembro de 2005, lançou pontes entre a comunidade científica e pessoas com essa experiência de vida, e também entre investigadores e activistas. A participação de lésbicas, gays, bis e transgenders foi alta, tanto entre o público como atrás dos microfones. O papel desempenhado pela comunidade LGBT é sem dúvida muito determinante na comunidade Polyamory, ao explorar, descobrir e testar constantemente modelos de relação que transcendem o par tradicional.

As questões apresentadas foram bastante diversas, por ex. "Que tipo de regras se devem estabelecer em relações múltiplas para que a/os participantes se sintam confortáveis mesmo quando alguém muito querido se encontra num dado momento nos braços amorosos de outrem?", ou "Será que o desenvolvimento recente do movimento Poliamor está de algum modo relacionado com a flexibilidade que a economia neo-liberal nos tem habituado a ver requisitada à massa trabalhadora?", ou ainda, "Que significa a palavra 'responsabilidade' para pessoas que querem manter vários parceiros sexuais?", ou ainda finalmente, "Como lidar com o ciúme?".

Quer nas apresentações quer na assistência estavam representadas todas as formas possíveis de Poliamor, e a visitante pode fazer um retrato vivo de como vários tipos de pessoas interpretam o Poliamor de modo pessoal e diferente e conseguem ser felizes: Seja em casamentos de grupo com regras rígidas, como swingers, em amor livre, ou como parceiros de jogo na comunidade SM, ou ainda em redes de relações alternativas por motivação feminista crítica ao casamento, seja ainda no deleite da constituição de ninhos românticos entrelaçados com esta ou aquela nova paixão.

Novas palavras têm sido desenvolvidas (por ex. em comunidades online) para evitar mal entendidos catastróficos. A palavra "frubble" descreve a excitação alegre ao se ver o nosso amor feliz na companhia (ou mesmo nos braços..) de outra.. Já a palavra "wibble" descreve a insegurança quando o nosso amor encontrou uma nova pessoa. "Metamor" é a alternativa positiva a "rival", e assim por diante.

Para estimular a conversa e o estabelecimento de contactos a associação "bildwechsel[2]" (Associação de Mulheres para os 'Media' e Cultura, Hamburgo) proporcionou na noite de Sábado um Videolounge. Para exercícios práticos pertinentes para a vida quotidiana numa relação múltipla, houve uma workshop com Dossie Easton, autora de "The Ethical Slut" (tentativa de tradução "a Vadia Responsável"). Easton assegurou que, apesar de décadas de vida "boémia", ainda por vezes sente ciúme: "É preferível adquirir estratégias para antecipar e lidar com o ciúme do que tentar a todo custo evitá-lo, pois assim ele aparece mais cedo ou mais tarde. E mais vale uma pessoa conhecer-se bem a si própria e aos seus sentimentos do que deixar a raiva tomar o freio nos dentes, que é sempre algo de que nos arrependemos mais tarde".

Há diferenças entre pessoas polifieis e monogâmicas?

Esta pergunta responde Daniela Dana (Itália) - pelo menos para a comunidade lésbica italiana na sua amostra - da maneira seguinte: Não há de todo! Dados como a a idade, a profissão, a região de domicilio, coincidiam completamente quando comparados entre as senhoras pertencentes à amostra em relações monogâmicas ou às em situações não "regulamentares" poliamorosas. Talvez este inquérito devesse ter procurado uma relação com o signo astrológico: Celeste West descobriu na sua investigação de 1995 um contingente significativo de Gémeos... Mais interessante ainda, 85% das lésbicas inquiridas por C.West descreveram-se a si próprias como feministas, o que é uma percentagem muito maior do que a média habitual na comunidade lésbica...

Uma conclusão tanto de Daniela Dana como de toda a conferência: Há ainda todo um novo mundo de investigação neste campo a descobrir, e há que saber fazer as perguntas certas!

Para todas as que não tiveram oportunidade de participar nesta conferência e que querem aprender

mais: Marianne Piper e Robin Bauer, organizadoras da conferência, do Centro de Investigação de Estudos Feministas de Género e Queer da Universidade de Hamburgo planeiam publicar em hardcopy os proceedings com todas as apresentações desta conferência.

Proceedings of conference here:
http://www.polyamory.ch/docs/abstracts_polyamory.pdf
as well as the comments from members of poly-ch list:
http://www.polyamory.ch/content.php?page=hamburg0511 (german only)



bibliografia:

[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Poliamor
[2] http://www.bildwechsel.org/
[3] Dossie Easton, Catherine Liszt "The Ethical Slut" Greenery Press
[4] Laura Merrit, Traude Bührmann and Nadja Boris Schefzig "Mehr als eine liebe", Orlanda
[5] http://www.sergej-magazin.de/

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4.24.2006

National Review: o que dizem os conservadores americanos sobre Big Love

A série Big Love ainda não chegou a Portugal e por onde ela passa já as discussões e reacções se tornam acaloradas.

Este artigo no National Review Online merece uma leitura atenta, pois representa uma das vozes dominantes dos conservadores americanos. A realidade americana e a nossa são sem dúvida diferentes, mas conto com alguns dos argumentos usados neste artigo como detractores dos defensores da Não-Monogamia seja em que forma for, serem decalcados sem dificuldade daqui a poucos meses.

http://www.nationalreview.com/kurtz/kurtz200603130805.asp




Na primeira metade do artigo, o autor tenta provar a intencionalidade dos autores (e actores) da série em tentar cunhar uma nova sociedade em que haja espaço para uma liberalisação e regulamentação legal (com o directamente associado e inevitável reconhecimento legal) de uma conceito alargado da família. Nesta exposição de intencionalidade, não há uma separação por parte do autor dos conceitos de poligamia e poliamor. Os argumentos que ele enumera para denunciar a referida intencionalidade são, tenho de reconhecer, muito bem expostos, tão bem, que se não fossem as suas frases pontuais a comentar cada parágrafo, esta primera parte do artigo pareceria mais uma apologia do Poliamor em lugar de uma severa crítica.

Em seguida, pergunta se acerca do impacto dos media e da televisão em particular como opinion makers, e dá como exemplo a visibilidade gay antes de as leis reguladoras do casamento gay terem sido emitidas

Segue-se a primeira separação entre poliamor e poligamia, quando o autor exprime o seu receio em que já se tenha atingido uma massa critica de pessoas que pratiquem uma ou ambas (refere os inumeros recursos electrónicos que existem na net), e que a série Big Love proceda a uma glamourisação que seja a faisca que comece a reacção a cadeia que faça cair a monogamia da cadeira.

Finalmente, ele chega a um ponto que já tem sido levantado, e que é muito importante: na superfície, Big Love é sobre poligamia e sobre uma familia mormon (que não segue o dogma oficial) com todas as suas especificidades, mas no fima acaba por mostrar que o que interessa são as intenções das pessoas e a maneira como elas concordam em estar umas com as outras no presente e no futuro. É acerca de emoções e intensamente sobre a liberdade e a responsabilidade de escolher. Em suma, é acerca de poliamor.

A conclusão receosa não se faz esperar. o autor receia que assim que o casamento homossexual for uma realidade, as alas radicais dos movimentos LGBT que não se identificam com o casamento e o seu arraial de valores ancient-regime, vai avançar com a reinvidicação do reconhecimento legal do poliamor.

O que é fascinante é que ele tem quase razão. o "quase" é porque não "vamos". já está a acontecer há muito tempo por essa Europa fora.

Obrigada pela vossa atenção.

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4.01.2006

A série Big Love



A série "HBO Big Love" tem estado a ser exibida desde algumas semanas nos Estados Unidos. Tem desencadeado alguma polémica, que começa a chegar ás nossas bandas devagar mas consistentemente.

A trama desenreda-se (ou enreda-se, dependendo do ponto de vista) á volta de uma família polígama que vive nos subúrbios. Bill Henrickson (BillPaxton) vive com as suas três mulheres, que se degladiam em intrigas domésticas, recorre á utilisação de Viagra, e ainda tem de lidar com a afirmação do seu modo de vida no mundo extra doméstico.

As discussões têem sido variadas e muitas, como outra coisa não seria de esperar.

http://www.nytimes.com/2006/03/28/arts/television/28poly.html

http://www.heraldtribune.com/apps/pbcs.dll/article?AID=/20060320/COLUMNIST75/603200543/1263/OPINION01


Confesso que fiquei com alguns pruridos quando li sobre esta série pela primeira vez no "Publico". Por muito poliamorosa que eu seja, e por muito tolerante que tente ser, também tenho dentro da minha cabeça o meu pidezinho de lápis azul á procura de tudo o que não lhe cai no goto ou que não encaixa no seu sistema do mundo: Afinal, é uma familia centrada num patriarca que nao tem nada de particularmente atractivo ou qualquer profundidade emocional. O protagonista vive rodeado pelas suas parceiras que se degladiam em intrigas palacianas e puxam o tapete umas ás outras para cairem nas graças do senhor. É mostrado como este tem de recorrer ao uso de Viagra (como se a sáude de uma relação se medisse pela existencia/quantidade/qualidade do sexo praticado).

Resumindo e concluindo, gostava que ao trazer o tema do poliamor para a ribalta através de uma série popular, que fosse com personagens com quem eu me identificasse um pouco mais.

Nao é o meu modelo preferido de relação dentro de vinte mil outros possiveis. Preferia ver retratadas mulheres mais independentes ou mais criativas, menos tricas, etc. Mas é uma relação poliamorosa e é valida, por isso terei de filtrar as oportunidades que o aparecimento desta série apresenta através do ruído dos meus pruridos.

Vejamos quais são entao as oportunidades que esta série nos tráz:

Por muito pouca identificação que eu tenha com os personagens nao se pode negar que se vai poder observar o tratamento dos problemas que em essência sao comuns a todos os modos de vida poliamorosos. Há que coar as tais especificidades que podem aumentar ou diminuir a empatia (e proporcionalmente a capacidade de absorçao e reflexão) com as personagens. Mas de facto, os tópicos hão-de estar lá todos.

Adicionalmente, e esta é a parte que me atrai mais, é a possibilidade de medir o pulso ás opiniões sobre o tema que teem as pessoas á minha volta. Não estando eu ainda completamente "out" como poliamorosa, vai ser interessante, graças á série, tomar o pulso ás opiniões de amigos, familares, colegas. Vejo nisto um futuro cheio de aprendizagem e oportunidades :-))


Até á próxima!


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