As pessoas em geral têm um ego do tamanho do mundo. Nós andamos sempre constantemente obcecados com nós próprios. A todo instante avaliamos as nossas acções e ficamos contentes quando elas têm sucesso e deprimidos quando elas não nos agradam, e isto para qualquer coisa, por mais insignificante que seja, como deitar leite numa chávena, por exemplo. No entanto, na realidade, as nossas acções, sejam quais forem, têm uma importância nula para o universo. Tudo o que fizermos, grande ou pequeno, glorioso ou miserável, será mais cedo ou mais tarde varrido para o esquecimento. Os dinossauros já cá estiveram e nós, a humanidade, um dia destes iremos desta para melhor, tal como eles foram. Nós caminhamos inexoravelmente para o desaparecimento como espécie e, mais significamente, como memória. No entanto, quando o leite é derramado para cima da toalha em vez de dentro da chávena, somos invadidos por um sentimento de vergonha e embaraço perante a nossa inépcia, como se essa falha fosse ter consequências desastrosas para o universo. Quando conseguimos executar algo imaculadamente, sentimos uma compulsão de o mostrar e de propagandear, como se efectivamente aquele acto fosse importante para o esquema das coisas.
Na minha opinião, este nosso ego é causa de muita miséria nesta sociedade em que vivemos. A quantidade de vezes em que sofremos por falharmos é virtualmente infinita. E por cada falha recolhemos dor suficiente, para à primeira oportunidade podermos atacar o ego dos outros, porque quando estamos feridos queremos que os outros também sofram, quanto mais não seja para nos sentirmos menos sozinhos. Também quando recolhemos louros e nos sentimos bem por isso, estamos a abrir caminho à desilusão, porque no fundo sabemos que aquilo não interessa para nada. A nossa morte chegará, como chega a toda a gente, e pior que tudo, por maior que seja o feito, a memória será um dia apagada. No limite, no dia da extinção da vida sentiente no nosso universo.
Agora chega a pergunta, porque continuo eu aqui tendo esta visão nihilista da vida? A minha resposta é, porque não tenho outra alternativa. Eu não quero morrer. Isto é um facto. Mesmo racionalizando a vida desta forma, simplesmente quero chegar o mais longe possível e ver o máximo que puder. Continuo a sentir tusa, é tão simples quanto isto. No fundo, o tal ego mantém-me aqui. Posso saber que mesmo que fosse a pessoa que mais fizesse pela humanidade, no final não teria peso nenhum no universo, mas sinto que quando dou um peido bem dado no momento certo, fiz uma coisa que me dá prazer, e gosto. E quando sofro, por ter metido a pata na poça, no meio da dor, acabo por me sentir vivo e sei que se sofro é porque tem que ser importante para mim. Eu estou vivo e gosto! Quando deixar de gostar, talvez acelere a caminhada inexorável... Agora não!
Há que dizer que a tal visão niilista me ajuda muito a viver melhor com os outros. Quando tenho sucesso a minha arrogância é atenuada pela ideia da perecidade dos meus actos, acabando por ser menos desagradável com os meus companheiros de caminhada. (Mesmo assim consigo exceder-me.) Quando falho, o que é que isso interessa? No fim vai tudo desta para melhor, e os filhos da puta arrogantes que nos rodeiam também vão desaparecer e ser reciclados como matéria estrelar, tal como toda a gente.
Enfim, vou fazer um videozeco, a ver se recolho uns elogios. ;-)
As Nuvens Contra O Céu Azul